Dizem-me que o actual Secretário de Estado da Energia, Carlos Zorrinho, é boa pessoa. E isso ainda mais triste me deixa quanto à existência de uma mente delirante que o que ele diz manifesta.
Ao que parece, Zorrinho acha que não é precisa mais energia na rede eléctrica para abastecer os (inexistentes) carros eléctricos, e parece que partilha essa ideia com o seu congénere espanhol. Mas como não é precisa mais energia, se a energia não se cria nem se gasta, apenas se transforma? Para a meter nos (inexistentes) automóveis eléctricos, é preciso ir buscá-la a algum lado, quando eles existirem!
Se viermos a ter todos automóveis eléctricos, uns 4 milhões em circulação a uma média de 12 mil km /ano, com um consumo de 15 kWh /100 km, mais os transportes comerciais, será preciso gerar como ordem de grandeza, em média, uns 900 MW de electricidade, pelo menos mais 1/6 do que o consumo anual actual de energia eléctrica.
É verdade que isso não acontecerá antes de daqui a 25 anos, já supondo muito optimisticamente que se inventam novas baterias que resolvam o problema das de iões de lítio nos próximos 10 anos, que os veículos eléctricos começam a substituir no mercado os com motores de combustão daqui a 5 a 10 anos e que depois serão precisos mais 15 a 20 para a substituição de toda a frota automóvel existente, ao ritmo anual normal com que compram automóveis novos em Portugal...
O que Zorrinho quer dizer, porém, só pode ser outra coisa que a sua manifesta incompetência no assunto não lhe permite explicar com clareza (acreditando na sua boa fé). O que ele quer dizer é que não serão precisas outras fontes de energia a não ser as renováveis que o Governo planeia instalar. Ou mais exactamente, as eólicas, já que as outras são pura ficção (caso do solar em grande escala) ou requerem um planeamento que este Governo é incapaz de fazer (casos da biomassa, biogás, biocombustíveis, etc) e de qualquer modo de custo exorbitante.
E como a energia eólica é altamente intermitente e aleatória, é aí que entram as "redes inteligentes" desta visão eco-utópica, que terão por papel adaptar o consumo à produção, que é pôr as pessoas ao serviço de uma forma de energia. Coisa que, nos automóveis eléctricos, exige além do mais que toda a gente tenha garagem onde possa deixar o carro ligado à tomada durante a madrugada, quando o vento sopra mais, garagem que a maior parte dos portugueses não tem...
Tudo isto manifesta é a aflição do Governo e outros responsáveis pela nossa política energética perante a incontrolável intermitência do vento, e o seu desespero por ainda não existirem os tais carros eléctricos que Zorrinho e o 1º Ministro querem para logo à noite (wishful thinking)!
Entretanto, o que a notícia que menciono testemunha de realmente importante é a tomada de corpo da proposta de um verdadeiro mercado europeu de energia, com vocação inter-continental, e de construção da sofisticada Super-Rede (smart Super-grid) que o infra-estruture e para que tenho vindo a chamar a atenção!...
7 comentários:
Essa "super-rede" não será também uma "utopia"?
Ah, o inescapável voluntarismo, aka "engenharia social", com a finalidade de "endireitar" o mundo, tornando-o "verde" e "justo"!
Quando soube que o Sr. Carlos Zorrinho ia ser o Secretário de Estado da Energia e Inovação, deste governo, fiquei, ainda, mais convencido da alta qualidade deste governo.
Eu assisti pessoalmente a uma intervenção pública desse Sr. a declarar o tipo de escolhas de um júri, ao qual ele nem pertencia, e em que afirmou que não eram os melhores que eram premiados.
Esse ”concursozito” de criatividade e inovação teve o seu auge (pós-ridiculo) ao premiar um projecto de uma concorrente que desenhou uma passadeira de peões, a comum zebra com € 1000,00.
Ainda se fosse do tipo Girafa…
Aqui: http://criar2009.gov.pt/ideiascriativas/
Todos temos o direito de falhar, mas uns falham mais do que outros. E, então agora que é meio caminho para tachar no governo.
Bem vistas as coisas existem concursos de inovação mais sérios que tem premiado, essencialmente plágios, no campo das energias pelo menos, no fundo existe um certo enquadramento relativo.
Caro Fernando Pereira,
Aborda um assunto que me tem interessado ultimamente. Por causa do prémio de 50 mil € dado pela EDP a uma suposta invenção feita por estudantes do IST que seria uma nova tecnologia para centrais de ondas.
Andei a investigar o assunto, porque alguns desses alunos eram meus conhecidos, e acabei há pouco precisamente de ter os dados que pretendia.
A "invenção" é uma carolice engraçada mas que não tem nada de sério nem, menos ainda, de novo, nem muito menos de aplicável industrialmente. E no entanto os jovens, além do prémio, tiveram direito a documentário na TV e notícia nos jornais.
Inicialmente pensei que eram os jovens que eram vigaristas, mas o que confirmei agora é que não; eles nunca tiveram grandes pretensões com aquele trabalho.
O Poder é que pegou naquilo e o transformou num acto mediático de grande impacto e, claro, completamente mistificador!
As coisas que estão a acontecer são ainda piores do que o que podíamos imaginar!!!
Pois, tb acho que muitas vezes os concorrentes são apanhados no balanço e qd dão por ela vão até onde nem esperavam. E, claro, torna-se irreversível, mas 50.000,00 sempre dão algum jeito.
Nesse caso específico nem sequer se pode chamar invenção, porque ainda não o é (pedido de patente 104442 que nem sequer ainda foi publicada) e duvido que venha a ser deferido porque já existe 1 maquinismo semelhante à venda da internet já alguns anos, embora pequeno e portátil que faz o mesmo.
As invenções patentes são muito pouco conhecidas, em termos do são de facto.
Um seu colega ganhou um prémio em 2007 (se a memória não me falha), 25.000,00, petente 103728, com 1 pedido de patente de invenção que teria aplicação industrial, mas que não tinha novidade inventiva. Acresce ainda que esse pedido foi formulado pela IST, grátis por isso, será que o seu o seu IST recebeu a respectiva parte, uma vez que é ele o titular. Espero que não seja uma verdade incomodativa ao ponto de me "chumbar".
O juri desse concurso de ...inovação é constituído por reitores de Universidades, que não sabem ao certo o que é uma Patente, deixam-se ludibriar por pedidos de patentes como se elas fossem mais do que isso. Por exemplo: - uma pessoa apresenta um pedido de patente da roda e é-lhe atribuído um nº de patente, o qual pode decorrer 18 a 24 meses até ao indeferimento final, mas entretanto já ganhou umas maçarocas sem as utilizar em inovação, posteriormente.
Exemplo real é também o júri desse mesmo concurso …inovação de 2008 não saber da existência de baterias de gel e premiar um suposto projecto que já conseguiu cerca de € 300.000,00 de subsídios só porque conseguiu patentear nos States. Patentear nos states e Canadá é o mais fácil, até a roda aceitam, a verdadeira Patente é resolvida em tribunal, desde que o prejudicado tenha interesse e dinheiro para custear o processo.
O ano passado esse concurso de inovação de um banco já contou com uma equipa especialista em P.I. para verificar a real patentealidade dos projectos concorrentes.
Relativamente ao concurso da edp inovação + visão + sir richard brason (mister virgin) a culpa é da equipa que tratou da promoção e gerenciamento do mesmo. Concerteza que o Mexia, Pinto Balsemão e Richard Branson não fazem a mínima ideia do que é de facto uma patente, e deram um espectáculo do tipo 3 mosqueteiros (se calhar + tipo moscãoteiros (Dartacão)). No entanto essa “ingenuidade” não existiu perante os meus comentários apagados na visão online.
Tenho estes dois e outros casos debaixo de olho, um deles vai terminar já em Março de 2010. Há muito dinheiro público envolvido, em forma de subsídios, patrocínios e benefícios fiscais.
fpereira
Caro Fernando,
Vejo que está bem informado. Sobre o que penso de patentes escrevi já bastante neste blog, particularmente em Julho passado, e sugiro que veja primeiro isto:
http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/2009/07/as-patentes-e-os-artigos-cientificos.html
E depois, isto e a história toda anterior:
http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/2009/12/de-novo-as-patentes-propaganda-e-triste.html
Como verá, eu penso que as patentes são uma arma comercial qeu se tem de inserir na estratégia comercial de uma empresa. Qualquer outra coisa é apenas mistificação para as estatísticas.
Há uns 16 anos, estava eu a criar uma linha de produtos na EFACEC, e sugeri que se registasse a patente de uma coisa que inventei. Nessa altura ainda não havia esta febre de trabalhar para a fotografia e o interesse da patente era genuíno. Mas, do ponto de vista de empresa, a Administração achou, com alguma razão, que em produtos de evolução rápida isso de patentes pouco importa - o que é preciso é manter a dianteira.
E assim, 2 anos depois todos os produtos da concorrência estrangeira tinham imitado a minha ideia. Nunca me importei com isso.
Essa necessidade de trabalhar para a fotografia e estatísticas acontece de facto, há semelhança (quase) com as novas oportunidades desde 2007, acho, que as instituições de ensino “superior”, (pessoalmente apoiado por estatísticas de estudantes com a hombridade de dizerem a verdade), para mim mais ensino do COPY PASTE, daí a crescente importância dos PAPERS, é extremamente útil essa prática.
Logicamente, como diz o outro das offshores e apoios pessoais, estatisticamente o registo de patentes tende para a valorização académica pós copy paste e como o Sr. diz, e muito bem, as tais soluções à procura de problemas.
Um verdadeiro inventor não é mais do que um oportunista que aproveita as falhas dos outros, cada vez mais académicos, a solução sempre esteve lá não houve foi quem que a detecta-se primeiro. E, se o fez não divulgou a alguém ou a publicitou (grande internet).
O tempo de 20 anos de protecção, no caso dos medicamentos 25 anos, serve para o autor/adaptador/visionário que viu o que, aparentemente, mais ninguém viu, tentar negociar esses mesmos direitos para a implantação da sua ideia ou visão. 20 anos é muito pouco, no caso dos direitos de autor penso que ainda são 50 anos, mas estavam a tentar fazer pressão para passarem a 70 anos.
Esse tempo de protecção, ou exclusividade permite ao autor manter alguma intervenção sobre a sua descoberta, diga-mos que pode ser encarado como um crédito especial a quem visualizou determinada solução ou adaptação terá mais capacidade de a “pragmatizar”.
Por um outro lado, será a possibilidade de compensação de tempo, mesmo muito tempo, de pensamentos em isolamento, actos familiares e sociais de saboroso ócio desperdiçados e muito dinheiro gasto.
Duvido que mais de 5% das patentes produzam, de facto, alguma mais valia para os seus autores e desses 3% serão patentes da industria da saúde.
0 mais engraçado é que a outra face da P.I., direitos de autor, normalmente insurge-se acusando os registadores de patentes como adaptadores oportunistas de tudo o que já existe na natureza, esquecendo-se que as palavras das letras e as notas da musicalidade também já existiam antes das suas obras, e quiçá papers.
Mesmo assim, o pior do que tudo é a pesada surdez visual que se tem de suportar.
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