segunda-feira, março 22, 2010

Explicando as contas da energia que vão produzir as hidroeléctricas como se fossem muito burros

Algumas pessoas parecem incrédulas com as contas que tenho apresentado sobre a energia nula ou mesmo negativa que os novos investimentos hidroeléctricos em projecto ou construção vão produzir, pelo que vou tentar explicar essas contas da forma mais simples que consigo, partindo do princípio que quem me lê nada sabe de engenharia.
  1. As 8 novas barragens do "programa nacional de barragens com elevado potencial hidroeléctrico" (PNBEPH) vão produzir em média anual, de origem hídrica, 128 MW. Mais as 2 de Ribeiradio e Sabor, e mais os reforços de potência em outras 6, temos um total de 175 MW. Estas contas fazem-se dividindo a energia média anual constante da própria memória descritiva do PNBEPH pelas 8760 horas do ano.
  2. Segundo os números disponíveis no site da EDP, quando as barragens estiverem prontas, no total produzirão anualmente em média 17,9 TWh em bruto, mas só 13,3 "líquidas de bombagem". Quer isto dizer que a diferença entre esses dois números é a energia produzida a partir da bombagem, o que dá 525 MW em média anual.
  3. Como o rendimento total do processo de bombagem e posterior turbinagem é de 75%, para que as barragens produzam 525 MW de origem eólica, têm de consumir 4/3 disso, ou seja, 700 MW.
  4. No total, portanto, as barragens produzirão em média 525+175= 700 MW, mas também consumirão 700 MW de origem eólica (ou solar). Portanto, o saldo energético das barragens será nulo.
Poderão dizer que não faz mal porque os investimentos serão privados e não do Estado, que é bom aproveitar os recursos hídricos nacionais e gerir as águas, etc. Tudo isto já aqui foi discutido, excepto a questão da gestão das reservas de água.
Quanto a este aspecto, noto apenas que a própria memória descritiva do PNBEPH diz que foram consultadas as autoridades do assunto relativamente a cada barragem e nenhuma manifestou interesse na água, com excepção do Alvito.

2 comentários:

jampgui disse...

Passa a ser muito simples de perceber se estes investimentos forem entendidos como sendo feitos em Acumuladores Hidroeléctricos.
E claro que o seu custo de amortização/manutenção/duplicidade de transporte, etc. deve ser adicionado ao custo de produção das eólicas.
Talvez comecem a entender a ruinosa opção que tem vindo a ser feita (e que daqui a uns anos estaremos a pagar).
Com energia cara que opções industriais poderão ter sucesso? Ou continuarão os particulares e pequenas empresas a financiar os grandes consumidores? Mas nesse caso a chamada "economia real", aquela que decorre dos gastos diários das pessoas, vai ter de viver sem essas verbas...
O que é o mesmo que dizer que o nível de vida dos portugueses sairá prejudicado!

Anónimo disse...

Caro Professor,

Já agora gostava que comentasse o seguinte "argumento". Depois dos investimentos enormes já feitos nas eólicas (e mal, na minha modesta opinião) e tendo em consideração do que já explicou que a produção das eólicas é maior à noite do que durante o dia (vazio e supervazio), não servirão estas barragens para "a transferência de energia" do período nocturno para o diurno (onde existem os "picos de consumo"). Ou seja, apesar do "balanço de energia" ser nulo, o "da factura" não será nulo...
Agradecia o seu comentário.

Melhores Cumprimentos.