quinta-feira, março 17, 2011

Radioactividade em Fukushima - 16 de Março

Dadas as atoardas sem a menor vergonha que alguns têm propalado sobre a radioactividade emitida até agora por Fukushima, transcrevo aqui um gráfico elaborado pela equipa de Engenharia Nuclear do MIT há algumas horas:

E alguns números típicos, constantes do mesmo post, tomando por unidade de radiação o milisievert (mSv):
  • Dose letal (para 50% das pessoas) - 2500 a 5000;
  • Dose causadora de patologia aguda - 500 a 2500;
  • Dose capaz de a longo prazo causar envelhecimento precoce ou cancro - 100 a 500;
  • Dose abaixo da qual não há dados que confirmem patologias - 50.
  • Dose normal no ambiente quotidiano - 5.
Ora como o gráfico acima mostra, até ontem (quarta-feira) os níveis máximos registados, e por curtos períodos, na periferia da Central, foram de 11. Não é bom, mas ainda não tem nada a ver com Chernobyl ou o apocalipse!
Entretanto, o lançamento de água por helicóptero e carros de bombeiros na piscina de arrefecimento dos resíduos dos reactores nº 3 e 4, piscinas cuja secagem é o maior perigo que de momento a situação encerra, terá tido êxito. A montagem da linha de energia auxiliar para alimentação das bombas hidráulicas também (toda a rede eléctrica da central e arredores foi devastada pelo terramoto e pelo tsunami subsequente). E um dos Diesel de emergência já está a trabalhar. De um modo geral, a situação está cada vez melhor controlada, como as últimas notícias de há minutos atrás indicam. O heroísmo e competência dos trabalhadores japoneses nas instalações e a ajuda dos que em todo o Mundo lhes desejam os maiores sucessos, conseguirão a vitória nesta tremenda batalha!
E, já agora, para quem queira ver uma história sobre uma emergência nuclear, recomendo o aluguer na Zon ou a compra na Fnac do excelente filme de Kathryn Bigelou (a ganhadora do Óscar de melhor realizadora em 2010), K-19 - the widowmaker.

6 comentários:

Lura do Grilo disse...

Sim... verdade. Já levaram energia ao reactor.

Parabéns ao governo, aos engenheiros e aos trabalhadores que lutam pelo seu país e um pouco por todos nós (também pelas lições que ali se vão tirar) numa altura em que o alarmismo é quase tão patológico como o do vírus da gripe A.

Uma lição de civismo e uma lição para os Governos investirem mais nas energias nucleares e modernos reactores atómicos (alguns com 40 anos quando investe no inútil fotovoltaico com tempo de vida de 20 anos e na eólica com cerca de 15).

Lura do Grilo disse...

20 é o limite para trabalhadores na indústria.

Quanto será em zonas de maior ocorrência de radão?

ND disse...

Não entendi como surgem os 400 milisievert. Se houver uma ruptura há o perigo desta quantidade ser liberta ou não?

https://lh4.googleusercontent.com/-kMHEy0CfLSg/TYFkZphEmFI/AAAAAAAADwk/EEbq8RpZh2g/s1600/radioativo.jpg

Pinto de Sá disse...

Sr. Dias,
O gráfico do MIT explica claramente como surgiram os 400 milisvt: "a measurement of 400 milisvt was taken between two of the reactors, but 11.9 milisvt was the highest measurement recorded on the plant's perimeter". Portanto, 400 foi LÁ DENTRO da central, enquanto 11.9 foi o que saiu no perímetros.
O gráfico também mostra como surge essa radioactividade: por picos. E isso tem uma explicação também já dada: é quando há descarga de vapor para aliviar a pressão no circuito de refrigeração do reactor. Algumas das barras de urânio usado, portanto misturado com resíduos radioactivos, terão já o revestimento de zircónio parcialmente destruído (foi a reacção do zircónio com o vapor de água que libertou o hidrogénio nesta que depois explodiu, exactamente numa das primeiras descargas de vapor). Portanto, parte desse material mistura-se com o vapor de água e sai para a atmosfera quando há a descarga.
São pequenas quantidades, ejectadas por pouco tempo, que dão uma grande concentração na ocasião, que se dilui rapidamente com a distância ao escape desse vapor.
É preciso perceber uma coisa: em Chernobyl não havia o contentor de aço grosso reforçado a cimento que há aqui, como em todas as centrais no Ocidente. Por isso, quando lá houve a 1ª explosão de hidrogénio ou vapor nas canalizações, essa explosão destruiu de imediato o frágil envólucro do reactor e atirou com o seu conteúdo - toneladas de cinzas, 4 vezes o conteúdo da bomba de Hiroshima - para a atmosfera.
Aqui isso é impossível, por causa do duplo contentor. Aqui o maior risco são as barras de urânio usado, cheias de resíduos, que estavam a arrefecer nas piscinas. Se estas secarem, essas barras podem arder (por causa do hidrogénio) e ir muito fumo radioactivo para a atmosfera, mas basta conseguir fazer chegar lá água para impedir que sequem, e parece que isso já está sob controlo (foi para isso que se usaram os helicópteros e os bombeiros).
Quanto aos reactores, estarão destruídos, mas não rompem. O MIT mencionou a experiência de Three Miles Island, em que o reactor derreteu a 50%, mas do contentor de aço só 5/8 de polegada do revestimento foi destruído, e esse revestimento tinha 9 poleadas (23 cm). Como estes de Fukushima.

E a propósito: em Three Miles Island, o 1º acidente com um reactor nuclear civil (com militares recomendo o filme K-19), não morreu ninguém. Como aqui em Fukushima, também (ainda) não morreu ninguém. Há cerca de 16 mil mortos já, no Japão, mas NENHUM devido às centrais nucleares e esta em particular.

Anónimo disse...

Se o Sr. diz que a situação está cada vez melhor controlada como explica que o governo tenha elevado grau de perigosidade de 4 para 5?

Pinto de Sá disse...

Essa elevação do grau de gravidade de 4 para 5 resultou de um ajuste dos procedimentos de cálculo numa reunião com a Agência internacional de energia atómica. Mero ajuste administrativo que não reflecte um agravamento real da situação.
Em todo o caso, só fica bem às autoridades que tomem todas as precauções - antes por excesso que por defeito!...