O Expresso de 26/Fevereiro/2011 publicou dois artigos de opinião fazendo o panegírico da política energética do actual governo: “O Mundo da energia tem os olhos postos em nós” do Director Geral da ADENE e “Energia, sustentabilidade e populismo”, do Presidente Executivo da ENEOP. Pode-se entender a propaganda, mas convenhamos que qualquer pessoa que tenha lido nos últimos meses a imprensa estrangeira sabe que infelizmente se “o Mundo tem os olhos postos em nós“ é por causa dos graves problemas de endividamento que nos afectam…
Os signatários pretendem assim contribuir para o esclarecimento da opinião pública sobre a situação energética portuguesa. A Energia terá de ser uma ferramenta ao serviço da competitividade da Economia de Portugal, mas é exactamente o inverso que tem acontecido nos últimos 15 anos.
Desde logo, para as empresas os preços de electricidade sem IVA, que é o que conta para a sua competitividade económica, são cerca de 15% superiores aos da média europeia e 40% superiores aos franceses. Para as famílias também são superiores à média europeia e 40% superiores aos franceses se se descontar a subsidiação relativa de um IVA muito inferior ao cobrado em média na Europa. E isto sem contar com o “défice tarifário” que pesa sobre os consumidores portugueses!
Depois, o valor médio da energia eólica que consta do documento oficial da ERSE para 2011 é de 90,54 €/MWh, muito acima do valor de referência do mercado que é de 52 €/MWh. E isto para não falar nos Decretos Leis que garantem valores de cerca de 350 €/MWh à electricidade fotovoltaica, e de 587 €/MWh à de microgeração.
Mas, mais grave, é o facto destas formas de energia serem intermitentes e incontroláveis, o que acresce um pesado sobrecusto sistémico a estas tarifas e que a “previsão e a gestão” não resolvem.
A intermitência significa que a produção dos aerogeradores varia drasticamente quando o vento muda ligeiramente, e a dos painéis fotovoltaicos quando o sol se põe ou, até, alguma nuvem o encobre ligeiramente!
Ora quando se promoveu a construção dum parque eólico que atinge hoje uma potência instalada de 4000 MW mas apenas 1000 MW em produção média, o governo teve que garantir por Decreto Lei que toda a energia eólica produzida tem de ser paga aos seus produtores, seja ou não consumida.
Porém, devido à referida intermitência, esta garantia exige que relativamente a toda a potência instalada haja investimentos adicionais vultuosos:
- por um lado é necessária uma “potência de substituição” em centrais térmicas porque, não sendo possível saber se na ponta de consumo anual vai, ou não, haver vento e água nas barragens que cheguem, o sistema electroprodutor tem que ser dotado com reservas;
- por outro lado é preciso aproveitar a electricidade eólica produzida nas horas de vazio em que não há consumo que a “encaixe”, fazendo bombagem para centrais hidroeléctricas de albufeira, processo em que ¼ da energia é dissipada em perdas e que nem sequer sempre funciona, pois quando a chuva compete com o vento pela capacidade das albufeiras estas têm que simplesmente abrir as comportas, ou a electricidade ser exportada a preço zero.
Ora estes sobrecustos acrescem às tarifas pagas aos produtores de energia eólica, e são incluídos nos CIEG (Custos de Interesse Económico Geral). E é o conjunto destes sobrecustos que não para de subir, como assinalou o Conselho Tarifário da ERSE no seu último documento oficial.
Por outro lado, os números apregoados relativos a novos empregos são completamente fantasiosos. Em toda a Europa, e segundo a própria associação europeia de energia eólica, terão sido criados 10,5 mil empregos anuais, mas 75% deles só nos 3 países que criaram e desenvolvem as respectivas turbinas, o que não inclui Portugal. Quanto à redução de importações de combustíveis fósseis em 2010, devida essencialmente a um ano chuvoso de que as nossas hidroeléctricas muito beneficiaram, terá sido de 174 milhões de euros mas em carvão e gás natural, sem que um barril de petróleo tenha sido poupado com isso!
A aposta da política económica portuguesa em bens transaccionáveis não é compatível com esta politica irrealista de fomento de sobrecustos da respectiva base energética.
E é isso que tem que ser corrigido, começando por uma análise global e fundamentada de todos os cenários tecnológicos possíveis de utilização de todas as fontes de energia primárias disponíveis.
José Luís Pinto de Sá e Clemente Pedro Nunes, Professores do Instituto Superior Técnico
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