segunda-feira, abril 04, 2011

Os 2 mortos de Fukushima e a "nacionalização" da TEPCO

Infelizmente, em resultado do acidente na central nuclear de Fukushima-Daiichi, já há a registar dois mortos. Não, não me refiro à crise na central depois do acidente - refiro-me ao acidente, isto é, ao terramoto e ao tsunami!
O mesmo tsunami que alagou e destruiu os geradores Diesel e demais quadros eléctricos dos serviços auxiliares da Central, afogou 2 trabalhadores que estavam num turno de rotina de verificação de equipamentos numa cave da central. Claro que isto já era esperado, porque desde o início que a TEPCO vinha informando do desaparecimento de 2 trabalhadores de um empreiteiro seu, mas mesmo assim há quem queira atribuir estas mortes às posteriores avarias dos reactores!...
Na mesma linha terrorista, há quem tenha vindo a dizer que o prejuízo causado pelas avarias em Fukushima levará à nacionalização da TEPCO.
Ora a TEPCO tem, com efeito, graves prejuízos com este terramoto-maremoto! Como todo o Japão, de resto.
Mas, como se pode comprovar aqui, além da perda irreparável de 3 ou 4 reactores nucleares em Fukushima I e das destruições nas restantes instalações da central causadas pelo terramoto-maremoto, a TEPCO sofreu ainda avarias noutra central nuclear, Fukushima II (mas sem problemas de segurança), em mais 3 centrais térmicas convencionais (Hirono, Hitachinaka e Kashima), que estão indisponíveis, e ainda em centrais hidroeléctricas e Subestações de Transporte, obrigando a cortes de energia rotativos entre os consumidores.
Nestas condições, juntando a estes prejuízos as indemnizações que o governo japonês já declarou que a TEPCO terá de pagar às populações deslocadas (deslocadas preventivamente, note-se, e não por os 20 km de área á volta da central estarem "radioactivos"), é natural que a empresa se veja em face de grandes necessidades financeiras, estando em discussão a forma que a ajuda do Governo japonês deverá tomar; no entanto, uma nacionalização completa está fora de questão, sendo antes de esperar a prestação de garantias bancárias para a realização de um empréstimo de emergência. Claro que a perda da central nuclear de Fukushima I e sobretudo de todos os problemas associados constitui a maior parte dos prejuízos da TEPCO, mas não serão os contribuintes japoneses a "socializarem" esse prejuízo.
Por outro lado, a TEPCO não é a única empresa japonesa a ter sofrido perdas enormes com o terramoto-maremoto: as acções da maioria dos grandes conglomerados japoneses estão em queda, e no total os prejuízos estimam-se em 310 biliões de USD (140% do PIB português)!...
Mesmo assim, a comunidade internacional espera que o Japão recupere depressa.
Entretanto e para quem estiver interessado em alguns esclarecimentos prestados à nossa TV sobre o que se tem passado em Fukushima, sugiro a visualização desta edição do programa "Olhar o Mundo".

8 comentários:

Gonçalo Aguiar disse...

Hoje na SIC notícias fizeram um grande aparato à volta da libertação de 15 mil toneladas de água "radioactiva" para o oceano Pacífico e dos possíveis impactos ambientais que essa descarga poderia causar. É importante relembrar que 15kton de água são apenas 15000 m^3, considerando que a densidade da água são 1000 kg/m^3 (1 ton/m^3). 15 mil metros cúbicos ocupam uma área de 1500 m^2 se considerarmos uma profundidade de 10 metros e por sua vez 1500 m^2 é um quadrado de cerca de 39 m de largura... Fazem-se descargas bem mais tóxicas para rios todos os dias provenientes da criação de gado, mas a comunicação social raramente se lembra delas. Estas tocam no tabu "nuclear" e pronto: toca a meter medo às pessoas...

Anónimo disse...

Eu acho piada aos discursos das imprevisibilidades e de como ficou demonstrado que as centrais nucleares resistem aos maiores terramotos.

Nem a intensidade do terramoto nem o tamanho da onda têm nada de imprevisível. Vamos ficar surpreendidos quando um terramoto até de menor intensidade provocar um deslizamento de terras ou um colapso do terreno que acerte em cheio numa central? Ou que uma onda de 14 metros passe por cima de uma barreira muito mais alta do que isso entretanto construída para resistir a qualquer tsunami? Quantos metros vai subir a água de uma onda que atinge centenas de metros de comprimento ao encontrar uma barreira?

O que interessa se o terramoto e o tsunami também fizeram estragos em edifícios e baragens e mataram mais gente? Uma asneira justifica outra?

As centrais nucleares têm um potencial de destruição tão vasto que todas as análises que tenho visto estão incompletas, nomeadamente sobre Chernobil. E Chernobil nem foi o pior cenário possível. Foi o pior até agora.

Não é uma questão de se o nuclear é o "mau da fita". É claro que as barragens de grandes dimensões também podem causar muitos mortos, e por isso devem também ser evitadas. Mas em termos de estragos que se mantêm no tempo, o nuclear é imbatível.

Sempre que houver alternativas, é de evitar as centrais nucleares. A opção tem sido previligiar o baixo custo em detrimento de prevenir o risco.
Os alarmismos, exageros da comunicação social e ecologistas, não justificam uma reposta igualmente exagerada na minimização dos riscos do nuclear.

Pinto de Sá disse...

Anónimo,
Você subestima os engenheiros. Julga que eles não entram em conta com tudo isso que diz?
No caso da subestimação do tsunami, não foi um erro do projecto da central; foi um erro de estimativa das autoridades japonesas para todo o Japão, e no entanto o Japão é o país que melhor estudou e se preparou para isso. Pagou caro o erro - 28 mil mortos.
Quanto ao "potencial de destruição tão vasto" das centrais nucleares, em que dados científicos se baseia para afirmar isso? Prove o que afirma, pelo menos para si próprio.

Anónimo disse...

"A opção tem sido previligiar o baixo custo em detrimento de prevenir o risco."

Uma central nuclear representa, entre todas as instalações de geração de grandes quantidades de energia, a que acarreta maiores custos de investimento, muito pelo facto de que o erro é intolerável. Tudo tem que ser visto, revisto e voltado a ser revisto n vezes de forma a minimizar o risco. Se uma central nuclear fosse tão barata, então porque é que em Portugal optámos pela via renovável, que provavelmente nos vai sair muito mais caro a longo prazo?

Quanto à devastação causada por centrais nucleares: o Sr. Anónimo deve fazer parte do grupo de pessoas que acredita que o combustível de uma central nuclear pode dar origem a uma explosão equivalente a de uma bomba atómica. Isso é fisicamente impossível por duas razões: o "combustível" usado nas centrais não existe em quantidades suficientes e não é o combustível mais apropriado para ser detonado. Informe-se primeiro antes de vir para aqui armado em jornalista leigo espalhar o medo.

Anónimo disse...

Caro Pinto de Sá,

eu não substimo os engenheiros, tenho é consciência de que o processo de tomada de decisão envolve muito mais gente do que apenas os engenheiros e envolve muito mais factores do que apenas os técnicos. Principalmente quando se trata de investimentos avultados que trazem ainda o factor corrupção.

Não duvido que qualquer engenheiro minimamente competente tenha em conta que um tsunami com uma onda de 14 metros de altura possa ultrapassar uma barreira muito mais alta. E também não duvido de que um executivo de topo de uma grande empresa ou um político manipule essa informação para evitar os custos associados e lucrar com isso. Ouvimos relatos de residentes na zona de Fukushima dizerem que na altura lhes asseguraram que a central era segura. Se na altura não havia conhecimento suficiente, não interessa muito, porque o acidente aconteceu agora, e o conhecimento existe há tempo suficiente.

Chernobil foi há 25 anos, porque ainda temos naquela zona responsáveis pela saúde, que estudaram o antes e depois, a dizer que 80 a 85% das crianças, nascidas anos depois do acidente, são consideradas doentes? Portugal é um dos países que recebe algumas dessas crianças. Há quem descarte o problema dizendo que são doenças de foro psicológico, não relacionadas com a radioactividade. E então? Continuam doentes, independentemente se a culpa é de um engenheiro, de um político ou de um ecologista radical, da radioactividade ou da desinformação. A origem do problema continua a ser o acidente nuclear.

Uma barragem de grandes dimensões pode devastar áreas enormes e causar muito mais mortes imediatas, mas deixa a zona afectada ainda fazer vítimas e isolada 25 anos depois? Julgo que não. E não esqueçamos que temos muitas centrais nucleares em zonas densamente povoadas.

Pinto de Sá disse...

"Chernobil foi há 25 anos, porque ainda temos naquela zona responsáveis pela saúde, que estudaram o antes e depois, a dizer que 80 a 85% das crianças, nascidas anos depois do acidente, são consideradas doentes".

Esta afirmação é o exemplo perfeito do disparate irresponsável e sem qualquer referência credível que só publico para notar isso mesmo: é uma simples "boca".
Já neste blog e há poucos dias coloquei hyperlinks para os relatórios dos comités internacionais reconhecidos pela ONU sobre Chernobyl. Quem quiser contrariar o que consta desses relatórios, que fundamente as "bocas"!

Pinto de Sá disse...

Aviso à navegação:
Geralmente sou condescendente com as questões que me levantem de boa fé, por maior que seja a ignorância que revelem. É uma condescendência que me resulta da vida de professor.
Porém, isto não significa que considere opiniões mal-educadas, infundamentadas ou baseando-se no "diz-se" ou em notícias de TV ou jornal, como equivalentes às que apresento e que se baseiam sempre em fontes científicas ou instituiconais para que, aliás, hyperlinko quase sempre.
Naturalmente não alimento discussões com quem ignora esses hyperlinks meus e me argumenta com frases infundamentadas ou baseadas no "diz-se", ou na deturpação de notícias, sobretudo se ainda por cima são mal-educadas e cobardemente anónimas.

Gonçalo Aguiar disse...

"E não esqueçamos que temos muitas centrais nucleares em zonas densamente povoadas."

Realmente hoje em dia faz-se de propósito para construir centrais nucleares exactamente no meio de zonas urbanas, de propósito para afectar a saúde das populações aí residentes, propositadamente perpetrado por políticos e engenheiros mal intencionados movidos apenas pelo interesse corporativo...

Sabia que viver a 50 km de distância de uma central a carvão impõe-lhe uma dose de radiação superior a viver a 50 km de uma central nuclear?

Se não sabe informe-se:
http://xkcd.com/radiation/

Veja lá não vá ficar doente porque tem uma central a carvão em Sines e outra a gás natural no Carregado...