Ontem os jornais davam conta que a barragem do Alqueva, que é basicamente apenas um grande depósito de água, dado o seu fraco caudal, está cheia.
O Plano Hidroeléctrico de Elevado Potencial visa, como mostrei aqui, explorar a capacidade de armazenamento das 8 novas barragens a construir para escoarem a energia eólica excedentária, objectivo reforçado pelo "reforço de potência" de um largo número de barragens já existentes, e entre elas a do Alqueva.
A ideia de usar barragens para armazenar energia de origem eólica surgiu já há uns anos, mas só tem sido estudada em alguns meios académicos. Não há de facto ainda, em parte alguma do mundo, experiência do uso prático da armazenagem hidroeléctrica para regularizar a intermitência da energia eólica. Nisto, Portugal é pioneiro, ainda que a ideia leve o custo o kwh de origem eólica para valores absolutamente extravagantes, como já mostrei.
Naturalmente, é por causas desses custos exorbitantes que Portugal é pioneiro.
Acontece que, à falta de experiência, os estudos publicados têm-se todos centrado no problema da gestão diária instantânea ("despacho") ou diária do binómio eólicas-barragens. O próprio Plano Hidroeléctrico, usando simulações da REN, baseia-se numa estimativa da potência eólica excedentária que pode ocorrer a certas horas do dia, e na necessidade de a conseguir armazenar toda de umas horas para outras.
Por conseguinte, o Plano estimou a potência (a quantidade de energia por segundo) que as barragens terão de ser capazes de bombar, para corresponder ao excesso de eólicas, e daí todos esses "reforços de potência" em curso.
Ora estes estudos baseiam-se sempre na ideia de que há capacidade de armazenamento nas barragens, o que geralmente é verdade, em média anual. Mas e se chover intensamente durante uns meses, e ao mesmo tempo fizer vento, como é frequente por cá no Inverno e está a acontecer agora?
Poderemos ter então uma situação em que as barragens não possam bombar mais àgua para escoar a energia eólica, porque estão cheias e têm é de, em muitos casos, despejar a àgua proveniente da chuva, e não meter lá mais. E isto não se resolve com "reforços de potência" das barragens, num país pequeno como o nosso em que quando chove muito chove em todo o lado, e o mesmo acontece ao mesmo tempo com o vento, como agora.
2 comentários:
Antes de mais uma palavra de apreço pelo serviço público que este blogue desenvolve. As matérias ligadas ao sector da energia são difíceis de compreender mais os seus escritos tornam os assuntos mais inteligíveis.
Um pequeno preciosismo a nova central da EDP junto da Figueira da Foz chama-se Lares e não Linhares, como escreveu.
O problema reside então nos contratos feitos com os produtores de energia eólica (PRE) que enquanto produzem, o Estado (não sei se é o Estado) fica obrigado a pagar a esses mesmos produtores e quando não há possibilidade de fazer a Bombagem nas barragens por falta de capacidade de armazenagem chega a ter de exportar a energia para Espanha de "borla"? O problema é este?
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