sexta-feira, janeiro 15, 2010

A carteira completa de opções tecnológicas para a redução das emissões de CO2

Já aqui há meses referi que o EPRI (Electric Power Research Institute), a super-estrutura norte-americana das empresas de electricidade para a Investigação & Desenvolvimento, tinha feito um estudo sobre as consequências de se limitarem as opções tecnológicas para a produção de energia às renováveis, ou não.
Na altura, o EPRI só permitia o acesso público ao resumo do estudo. Porém, e provavelmente devido á enorme importância política do assunto, o EPRI disponibilizou agora a toda a gente o relatório completo.
É importante perceber o que diz o EPRI, numa altura em que está em curso no país - e um pouco por todo o lado lá fora - uma enorme corrida às licenças de construção de novas centrais de ciclo combinado a gás natural. Com a depressão económica em curso e o aperto dos Governos para reduzirem os défices gerados pela crise, por todo o lado a subsidiação das renováveis esmorece, e com ela voltam as regras do mercado.
Ora considerando que as reservas mundiais de gás natural já davam para 63 anos, ao ritmo de exploração do início de 2009, e que durante este ano se comprovou a eficácia das novas técnicas de extracção do gás natural dos xistos subterrâneos, o que de repente aumentou em de 20 a 40% as reservas mundiais de gás com exploração rentável (uma das grandes inovações do ano em matéria energética, segundo o MIT), a tentação de assentar todo o crescimento da produção futura de electricidade nesta fonte energética é muito grande. Vamos lá a ver se há alguém que na UE cumpre o objectivo de redução das emissões em 20%, com esta tentação - ou se o que haverá mesmo é nenhuma redução, como até aqui!
De facto, uma central de ciclo combinado emite cerca de 1/3 do CO2 da de uma a carvão, para o mesmo kWh. Mas, sobretudo, requer um investimento mínimo e tem uma construção rápida, o que é muito tentador para o investidor privado que não tem uma lógica de longo prazo.
E é mesmo sobre isso que o EPRI nos avisa.
Se assentarmos a produção de energia no gás e desistirmos da aposta no desenvolvimento das tecnologias que requerem mais tempo e investimento, como o nuclear e o carvão com aprisionamento do carbono, lá para 2050 teremos a energia a um preço tremendo!
No cenário de deixar as coisas correrem, teremos a redução rápida do uso do carvão e a gradual do do nuclear, e não serão as renováveis que os substituirão (aparte as eólicas, que têm um "share" garantido), mas sim o gás natural - que é o que já está a acontecer por cá. Até que a necessidade de redução das emissões de CO2 e o aumento dos preoços do gás levarão ao crescimento da "gestão da procura", que será o principal meio, a longo prazo, da resolução do problema. Gestão da procura que significa, é bom de ver, o quase-regresso à Idade Média energética...
E o gráfico seguinte, com a previsão da evolução do preço para as duas opções, mostra porquê. Mas, além desta subida de preços, a opção limitada (excluinte do nuclear e do carvão limpo) levará forçosamente também a uma situação final com muito maiores emissões de CO2...!
Por cá, as duas centrais de ciclo combinado a gás natural a quem foram concedidas licenças (Galp em Sines e Iberdrola), a adicionar às outras duas que já entraram em funcionamento em 2009 (EDP em Lares) e vão entrar em 2010 (Siemens/Endesa no Pego), aponta para a aposta habitual de sacrificar o futuro. Além de que, sinceramente, tenho pena que sejam estrangeiros metade dos investidores que vêm mamar esta vaca-leiteira...

1 comentário:

Anónimo disse...

A central de Lares já está a funcionar desde o verão....isto quando a chuva e o vento não são muitos...ehehheheeh.