No meu post anterior, afirmei que o preço da electricidade ao consumidor doméstico era, na Holanda, 2/3 do da Dinamarca e 30 % superior ao preço em Portugal.
Porém, devia ter comparado o preço dessa electricidade antes de impostos. Por isso trouxe aqui um gráfico dos preços ao consumidor da electricidade (há 4 anos), na Europa - com impostos (o total) e sem (as barras azuis escuras).
Como é evidente, antes de impostos o preço da electricidade na Holanda é inferior ao português. Aliás, antes de impostos só a Irlanda (com os seus custos de insularidade) e a Itália têm preços superiores aos nossos.
O custo da electridade em Portugal tem um preço para o consumidor que é médio, em termos europeus, porque cá o Estado financia a energia (com subsídios às renováveis), enquanto nos países mais ricos da Europa os Estados financiam-se com a Energia.
E isto é assim porque o nosso Governo não tem a coragem de permitir que os preços reflictam inteiramento o custo da sua política de subsidiação às renováveis.
Quando esses subsídios forem inteiramente reflectidos nos preços, provavelmente então "sem tarifas" para que o Governo possa dizer nada ter a ver com esses preços e reclamar que eles apenas reflectem "o mercado", vamos garantidamente estar na gloriosa posição de ter a energia eléctrica mais cara da Europa, sobretudo considerando a necessidade de amortizar as inúteis hidroeléctricas em construção. Antes de impostos. Que se calhar também vão ter de subir, para pagar a dívida pública. E nessa altura talvez a EDP entre em falência, por incapacidade de competir com os preços da energia espanhola, e talvez as "eléctricas" espanholas a comprem. Fará isto tudo parte de um plano precisamente com esse objectivo?
11 comentários:
Do pouco que sei de economia existem alguns factores principais que condicionam o crescimento económico: existência de mão de obra (qualificada); e custos reduzidos de energia.
Numa tentativa de melhorar as estatísticas portuguesas o governo anda a "dar" diplomas de 12º ano e de licenciatura. Portanto dado o reduzido nível de exigência a mão de obra ficará cada vez menos qualificada (um paradoxo!?).
Por outro lado a política televisiva no sector da energia eléctrica só a fará ficar cada vez mais cara como tem sido demonstrado neste blog.
Conclusão os dois principais vértices do crescimento económico de um país estão a ser "atacados" pelo próprio governo.
O resultado disto deve ser emigração em massa e focalização da economia exclusivamente no sector do turismo barato (as praias portuguesas já estão quase todas destruídas o que afasta os turistas mais selectivos e com maior poder de compra). Daí as palavras recentes de um ministro sobre Lisboa vir a ser a "praia de Madrid".
Também me parece uma evidência a descarada gestão política do timing da desregulação das tarifas. Sobre isto, como de resto quanto ao défice tarifário, o silêncio dos media é ensurdecedor.
Duas palavras entre parêntesis, literalmente, foi o que o Público de ontem (sexta-feira) brindou os seus leitores quanto ao anúncio de Obama relativo ao lançamento de um programa de construção de novos reactores nucleares.
Eduardo,
a liberalização do mercado de energia, não significa desregulação das tarifas, isto porque as redes serão sempre reguladas. Isto apenas significa que não vai haver um preço ao cliente final tabelado, e portanto as empresas são livres de ganhar ou perder dinheiro com os seus clientes. Mas como todos vão ter que pagar as tarifas de redes, e é onde estão os custos crescentes de politica energetica nacional, está a ver os preços a baixar? Eu não, a não ser que a energia fique ao "preço da chuva", e mesmo assim não deve dar para atenuar a subida do custo das redes.
A liberalização vai servir apenas para o Governo, com a factura final a aumentar, ter a desculpa que o mercado é livre... nada mais.
A propósito dos custos da energia e "do nuclear":
O ministros quando deixam de o ser parecem outras pessoas...
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=407963
cumprimentos,
Sérgio Sousa
No caso de Portugal, o gráfico apresenta um custo de 0,14 €/kWh. O preço actual, em 2010, é de 0,1285 €/kWh + iva.
Diz no seu texto que o gráfico reflecte dados de há 4 anos. Sabendo que a tarifa tem vindo a subir nos últimos anos, questiono-me quanto à fidelidade dos dados que deram origem ao gráfico que apresenta...
Caro Francisco,
Esse preço que refere, 0,1285 €, não inclui o "aluguer do contador", que também faz parte do preço da electricidade.
Como cada consumidor tem gastos diferentes mas paga o mesmo por contadores de igual potência contratada, o cálculo do preço MÉDIO que realmente se paga por kWh consumido é um pouco mais complicado do que ler o que está na factura da EDP.
É preciso saber a média dos consumos e dividir o valor fixo das facturas pelos kWh.
Obviamente, dá mais que os 0,1285 €.
Um pequeno reparo:
Há muitos anos que a EDP abandonou a expressão «aluguer do contador», no seu sistema tarifário, que, no caso de consumos em BT, inclui a chmada taxa de potência e a tarifa de custo do KWh efectivamente consumido, acrescidas das parcelas com os impostos legais em vigor, em que figura a magnífica taxa dos audio-visuais, que substitui a antiga taxa da Radio/TV, cometida a sua cobrança por DL à EDP.
Um leitor interessado, por vezes crítico e até discordante, mas, no geral, concordante.
Obrigado pelo esclarecimento. Realmente não me lembrei dessa possibilidade. No entanto, pergunto-lhe se concorda com essa metodologia. Isto porque, se é um custo fixo, e independente do uso de electricidade, será mais ou menos como imputar ao custo do litro do gasóleo o preço médio dos veículos que o usam... Não?
Daí que a comparação entre países possa não sair tão 'accurate' quanto o desejado.
Francisco,
Em 1º lugar, como pode verificar o gráfico que poste é da Eurostat, o organismo da União Europeia que elabora as estatísticas da Comunidade. Não fui eu que o inventei...
Em 2º lugar, faz todo o sentido que haja uma taxa fixa, antigamente chamada "aluguer do contador" e que por causa disso foi atacada no Parlamento e que mudou de nome: chama-se agora "taxa de potência" e paga o quê? Paga a amortização da rede e de todos os equipamentos que estão aí para serem usados quando se quiser, e que é preciso pagar quer se usem, quer não.
Em bom rigor e para que os preços reflectissem efectivamente os diversos custos, a "taxa de potência" fixa até devia ser muito maior do que é, e a tarifa variável muito menor, contemplando apenas e de facto a energia. O problema é que isso penalizaria muito os consumidores mais pobres que gastam pouco, e é por isso que é como é.
Agora, sim : a informação aduzida está correctíssima, outra coisa não sendo de esperar, vinda de quem vem, com as responsabilidades de formação de futuros Engenheiros.
Aproveito para felicitar o autor do blogue, Professor do IST, que aceita expor-se à crítica comum, expondo as suas opiniões técnicas, científicas, nem sempre quimicamente puras, porque, como bem afirma, a Ciência não é neutra e no fundo é preciso transformar a realidade, ainda mais do que interpretá-la, como já preconizava o velho Marx, aqui inteiramente certo, como creio que quase todos concordam, mesmo os que discrepam da sua visão filosófica profética.
Leitor atento, já regularmente assíduo.
se a electricade esta tao barata para o consumidor qual a razao dos lucros enormes da EDP.
na eiropa no principio do ano em portugal subui 4%, na europa desce 1;5%
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