sexta-feira, abril 29, 2011

As verdadeiras previsões do Governo para o carro eléctrico em Portugal

Como se sabe, o nosso Governo, as Universidades, a EDP e em geral o pensamento único que nos instrui em matéria energética, apregoam que o automóvel eléctrico está aí em pleno e que muito em breve iremos deixar de precisar de petróleo e poder abastecer os nossos automóveis eléctricos com energia de origem eólica e solar.
O nosso 1º Ministro chegou mesmo a notar, em 2009 e por ocasião da inauguração da fábrica de baterias de iões de lítio de Aveiro, que Portugal se colocava na dianteira da tecnologia, ao contrário do que teria sucedido historicamente no passado, e em 2010 reafirmou esta posição de vanguarda, ao inaugurar o sistema de abastecimento dos automóveis eléctricos, o Mobi.E, e que consta se estar a exportar para a Tunísia, Emiratos Árabes, etc...
É sabido que já manifestei por aqui dúvidas sobre esta euforia, mas será que sou apenas um "bota-abaixo", um "velho do Restelo", um "pessimista"?
Ora estive a consultar o Plano Nacional para as Energias Renováveis que o Governo entregou em Bruxelas em Outubro passado, e onde constam as previsões oficiais para a penetração da energia eléctrica nos transportes rodoviários para 2020 (daqui a 10 anos), e para um dado para que um amigo me chamou a atenção: dos 10% de fontes alternativas que a União Europeia mandou ter para combustível nos transportes nessa data, a fracção indicada pelo nosso Governo para a electricidade é de... 11%; o resto são biocombustíveis, especialmente para o Diesel! 11% de 10%!
Porém, como se pode verificar nos quadros 4b e 12 do documento entregue a Bruxelas, mesmo desta parcela a maioria é para os transportes não rodoviários; para os rodoviários prevê-se apenas 26 kTEP em 532!
Ou seja: afinal o próprio Governo prevê que, daqui a 10 anos, menos de 0,5% dos automóveis funcionem a electricidade!...

5 comentários:

Man disse...

É preciso ser mesmo muito otimista (ou pessimista) para acreditar que daqui a 10 anos haja 1% de veículos eléctricos. Certamente o número estará mais perto de 0,1% do que de 1%. Tomem nota destes valores e, se daqui a 10 anos ainda cá estivermos, então poderemos conversar sobre eles.

Anónimo disse...

Boa noite,

Li este comentário no fórum do Jornal Negócios, com um link para aqui

http://caldeiraodebolsa.jornaldenegocios.pt/viewtopic.php?p=834525#834525

É mesmo como vem lá explicado no comentário, pode dar-se o caso de andarmos a exportar energia subsidiada ? Isso não é uma fraude ?

Pinto de Sá disse...

o hyperlink que está nesse fórum é correcto.
O que sucede é que no Inverno, nas madrugadas, temos excesso de produção de energia eólica e não temos onde a meter. Por isso a temos exportado a preço zero, porque a Espanha também não precisa dela, embora a paguemos aos produtores a preço fixo.
Legalmente não é fraude. Politicamente, pense o que quiser...

Anónimo disse...

Obrigado professor.

Já agora aproveito para outra questão se souber responder. No caso das novas barragens reversíveis que serão supostamente alimentadas com eólicas durante a noite, como é o modelo de negócio de tudo isso ?

Por exemplo, o produtor eólico A fornece energia à barragem B para esta bombear água de volta para a albufeira e no dia seguinte esse produtor B vende energia durante o dia nas horas de maior consumo.

No complexo sistema tarifário nacional, em que quer A quer B tem tarifas garantidas, e do que já li, mesmo o produtor B, barragem, tem tarifas simpáticas em troca da venda das concessões com que o Estado se andou a financiar, qual é expectável o preço final dessa energia que circula ao longo desse puzzle tarifário?

Pinto de Sá disse...

Esse modelo de negócio é complicado (obscuro), e está explicado ao longo de vários posts neste blog. Vamos ver se o consigo resumir em poucas palavras:
- O eólico vende, a preço fixo subsidiado, sempre que haja vento e independentemente do mercado.
- O valor de mercado depende da relação entre oferta e procura. Se houver excesso de eólica sobre a procura, o valor é zero.
- As barragens compram, no mercado, a esse baixo preço, eventualmente zero.
- E revendem nas horas de ponta, quando há mais procura que oferta, por bom preço.
- mesmo assim, esta margem das barragens não chega para pagar o seu investimento, por isso o governo criou recentemente uma tarifa extra para os remunerar.
- Se as barragens recebem uma tarifa fixa extra, as eólicas uma tarifa fixa sempre, mas a energia é no fim vendida a valores de mercado à EDP-Distribuição e aos grandes clientes, de onde vem o $ para pagar as tarifas fixas às eólicas e às barragens, se não é do mercado?
- Vem de uma rubrica, os CIEG ("Custos de Interesse Económico Geral")que depois é metida na factura total, e onde esses custos estão escondidos e que é mais de 50% do total da factura que pagamos.
- Ou seja: somos sempre nós, consumidores, que pagamos isso tudo, em virtude do mecanismo tarifário feito por Decreto (às vezes até sò por portaria...)

Quanto ao preço final: espere pelo final do ano, para o saber. Até agora esse preço final tem sido escondido por duas vias: a) vai para um "défice tarifário"; b) beneficia de um IVA de 6%, inferior ao de todos os outros países europeus, onde o IVA sobre a electricidade é de no mínimo 13,5% (Irlanda) e em regra 18% (Espanha) a 20%.
Quando esses encobrimentos desaparecerem, por via do acordado com a troika, vamos ter aumentos de uns 20% na electricidade, a não ser que cortem as mamas...