Como se sabe, o nosso Governo, as Universidades, a EDP e em geral o pensamento único que nos instrui em matéria energética, apregoam que o automóvel eléctrico está aí em pleno e que muito em breve iremos deixar de precisar de petróleo e poder abastecer os nossos automóveis eléctricos com energia de origem eólica e solar.
O nosso 1º Ministro chegou mesmo a notar, em 2009 e por ocasião da inauguração da fábrica de baterias de iões de lítio de Aveiro, que Portugal se colocava na dianteira da tecnologia, ao contrário do que teria sucedido historicamente no passado, e em 2010 reafirmou esta posição de vanguarda, ao inaugurar o sistema de abastecimento dos automóveis eléctricos, o Mobi.E, e que consta se estar a exportar para a Tunísia, Emiratos Árabes, etc...
É sabido que já manifestei por aqui dúvidas sobre esta euforia, mas será que sou apenas um "bota-abaixo", um "velho do Restelo", um "pessimista"?
Ora estive a consultar o Plano Nacional para as Energias Renováveis que o Governo entregou em Bruxelas em Outubro passado, e onde constam as previsões oficiais para a penetração da energia eléctrica nos transportes rodoviários para 2020 (daqui a 10 anos), e para um dado para que um amigo me chamou a atenção: dos 10% de fontes alternativas que a União Europeia mandou ter para combustível nos transportes nessa data, a fracção indicada pelo nosso Governo para a electricidade é de... 11%; o resto são biocombustíveis, especialmente para o Diesel! 11% de 10%!
Porém, como se pode verificar nos quadros 4b e 12 do documento entregue a Bruxelas, mesmo desta parcela a maioria é para os transportes não rodoviários; para os rodoviários prevê-se apenas 26 kTEP em 532!
Ou seja: afinal o próprio Governo prevê que, daqui a 10 anos, menos de 0,5% dos automóveis funcionem a electricidade!...
sexta-feira, abril 29, 2011
quinta-feira, abril 28, 2011
Electricidade a petróleo em Portugal
Como é sabido, uma das vigarices mais insistentemente repetidas pelos promotores da energia eólica, é que o investimento na mesma poupa ao país importações de petróleo.
Conhecendo há muito tempo como é gerada a electricidade em Portugal, essa é das barbaridades que me deixa desaustinado! Confesso mesmo que foi uma questão decisiva para eu ter iniciado o meu blogue, em 2009!...
No entanto, essa mentira é tão repetida, que há muita gente que a interiorizou, e que chega mesmo a duvidar do contrário. E perguntam alguns pelas centrais do Carregado e de Setúbal, ao que lá temos que explicar que o Carregado há anos que foi reconvertido a gás natural (ciclo combinado) e que Setúbal também há anos que raramente funciona.
Na verdade, o abandono do petróleo para a produção de electricidade é algo que foi consensualmente decidido praticamente em todo o Mundo depois do choque petrolífero de 1973, há já quase 40 anos! Universalmente, a solução foi a mudança para o carvão (alguns para o nuclear, como a França e a Alemanha), e desde os anos 80-90 é o carvão que é a base da geração termoeléctrica mundial, e não o petróleo! Incluindo em Portugal, com as grandes centrais de base de Sines e depois do Pego, perto de Abrantes...
E se o carvão entrou em desgraça a partir de 1990, foi por causa de Kioto e da necessidade de redução das emissões de CO2 o que, como já expliquei sobejamente, está na origem do renascimento mundial da energia nuclear - para substituir o carvão como este substituíra o petróleo.
E no entanto, os que querem teimosamente associar na mente pública o alto custo do investimento na energia eólica com o petróleo não desistem...
Acontece que recentemente me dei conta que, no mix de fontes de electricidade em Portugal, constam duas pequenas parcelas que efectivamente comportam derivados de petróleo mas que em regra passam desapercebidos.
A primeira parcela é a geração eléctrica nos Açores e na Madeira. Nos Açores, numa produção anual de 0,85 GWh, a componente a fuel e gasóleo é de 72%, 0,61 GWh. Na Madeira e Porto Santo, numa geração total de 1 Gwh, a componente a fuel e gasóleo é semelhante - 0,735 GWh. Pelo que a parcela total de geração a derivados do petróleo nas ilhas é de 1,35 GWh, o que perfaz 2.7% da produção eléctrica nacional (na Grécia é 8%). Claro que essas componentes térmicas não são fáceis de substituir nas ilhas, pelo que isto não é nenhum reparo mas apenas uma nota.
A segunda parcela de geração a derivados do petróleo é a cogeração (Produção em Regime Especial) a fuelóleo, que constitui 29% da totalidade da potência instalada em cogeração, que na sua totalidade gera 13.5% da electricidade nacional. A cogeração a fuelóleo deve, assumindo-a proporcional (sobre o que me faltam dados precisos), gerar portanto 3 a 4% da electricidade nacional.
Admitindo o limite inferior, dado que com a subida de preços do fuel essa cogeração não deve ser muito rentável (mesmo usando do fuel mais ordinário e poluente), temos que o petróleo efectivamente gera mais electricidade do que o suposto pelo próprio Governo: 2.7% nas ilhas + uns 3.3% na cogeração = 6%. Mas como esta última também tem tarifas garantidas semelhantes às das eólicas, não se vê como a aposta nas eólicas substitui a cogeração a fuel...
Quanto às ilhas, e nas que têm dimensão para isso, aí sim, vale a pena aproveitar toda a energia renovável tecnicamente possível, porque o fuel e o gasóleo são lá muito caros - sobretudo por se terem de transportar para lá! Nos Açores, em particular, vale a pena aproveitar ao máximo a geotermia, e de facto em 2006 entrou em funcionamento em S. Miguel uma segunda central geotérmica.
E valerá também a pena ter automóveis eléctricos, quando as baterias forem mais baratas, não só para poupar os caros de transportar gasóleo e gasolina, mas também porque as distâncias nestas ilhas são curtas e cheias de subidas e descidas (o que torna ainda mais interessante a travagem regenerativa). Enquanto não há carros eléctricos, estas distâncias curtas e acidentadas recomendam os híbridos, o que aliás se vê lá bastante, e veria muito mais se os combustíveis não tivessem lá uma bonificação fiscal que os torna muito mais baratos que no Continente e desincentiva a "eficiência energética"...
Conhecendo há muito tempo como é gerada a electricidade em Portugal, essa é das barbaridades que me deixa desaustinado! Confesso mesmo que foi uma questão decisiva para eu ter iniciado o meu blogue, em 2009!...
No entanto, essa mentira é tão repetida, que há muita gente que a interiorizou, e que chega mesmo a duvidar do contrário. E perguntam alguns pelas centrais do Carregado e de Setúbal, ao que lá temos que explicar que o Carregado há anos que foi reconvertido a gás natural (ciclo combinado) e que Setúbal também há anos que raramente funciona.
Na verdade, o abandono do petróleo para a produção de electricidade é algo que foi consensualmente decidido praticamente em todo o Mundo depois do choque petrolífero de 1973, há já quase 40 anos! Universalmente, a solução foi a mudança para o carvão (alguns para o nuclear, como a França e a Alemanha), e desde os anos 80-90 é o carvão que é a base da geração termoeléctrica mundial, e não o petróleo! Incluindo em Portugal, com as grandes centrais de base de Sines e depois do Pego, perto de Abrantes...
E se o carvão entrou em desgraça a partir de 1990, foi por causa de Kioto e da necessidade de redução das emissões de CO2 o que, como já expliquei sobejamente, está na origem do renascimento mundial da energia nuclear - para substituir o carvão como este substituíra o petróleo.
E no entanto, os que querem teimosamente associar na mente pública o alto custo do investimento na energia eólica com o petróleo não desistem...
Acontece que recentemente me dei conta que, no mix de fontes de electricidade em Portugal, constam duas pequenas parcelas que efectivamente comportam derivados de petróleo mas que em regra passam desapercebidos.
A primeira parcela é a geração eléctrica nos Açores e na Madeira. Nos Açores, numa produção anual de 0,85 GWh, a componente a fuel e gasóleo é de 72%, 0,61 GWh. Na Madeira e Porto Santo, numa geração total de 1 Gwh, a componente a fuel e gasóleo é semelhante - 0,735 GWh. Pelo que a parcela total de geração a derivados do petróleo nas ilhas é de 1,35 GWh, o que perfaz 2.7% da produção eléctrica nacional (na Grécia é 8%). Claro que essas componentes térmicas não são fáceis de substituir nas ilhas, pelo que isto não é nenhum reparo mas apenas uma nota.
A segunda parcela de geração a derivados do petróleo é a cogeração (Produção em Regime Especial) a fuelóleo, que constitui 29% da totalidade da potência instalada em cogeração, que na sua totalidade gera 13.5% da electricidade nacional. A cogeração a fuelóleo deve, assumindo-a proporcional (sobre o que me faltam dados precisos), gerar portanto 3 a 4% da electricidade nacional.
Admitindo o limite inferior, dado que com a subida de preços do fuel essa cogeração não deve ser muito rentável (mesmo usando do fuel mais ordinário e poluente), temos que o petróleo efectivamente gera mais electricidade do que o suposto pelo próprio Governo: 2.7% nas ilhas + uns 3.3% na cogeração = 6%. Mas como esta última também tem tarifas garantidas semelhantes às das eólicas, não se vê como a aposta nas eólicas substitui a cogeração a fuel...
Quanto às ilhas, e nas que têm dimensão para isso, aí sim, vale a pena aproveitar toda a energia renovável tecnicamente possível, porque o fuel e o gasóleo são lá muito caros - sobretudo por se terem de transportar para lá! Nos Açores, em particular, vale a pena aproveitar ao máximo a geotermia, e de facto em 2006 entrou em funcionamento em S. Miguel uma segunda central geotérmica.
E valerá também a pena ter automóveis eléctricos, quando as baterias forem mais baratas, não só para poupar os caros de transportar gasóleo e gasolina, mas também porque as distâncias nestas ilhas são curtas e cheias de subidas e descidas (o que torna ainda mais interessante a travagem regenerativa). Enquanto não há carros eléctricos, estas distâncias curtas e acidentadas recomendam os híbridos, o que aliás se vê lá bastante, e veria muito mais se os combustíveis não tivessem lá uma bonificação fiscal que os torna muito mais baratos que no Continente e desincentiva a "eficiência energética"...
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terça-feira, abril 26, 2011
O mix eléctrico europeu. II - Norte e Leste
Na parte I deste texto, percorri metade da União Europeia de 27 países em que estamos integrados, de Espanha à República Checa, caracterizando sumariamente o respectivo mix energético. Deixei de lado, por irrelevantes e por terem condições particulares que os tornam incaracterísticos, Chipre e Malta, e também deixarei o Luxemburgo, na viagem de regresso. Como se viu, dos países visitados apenas um não tem nem quer ter energia nuclear: a Áustria!
Viajando agora para norte da República Checa, chegamos à Alemanha, o coração da União, o seu motor económico e também o seu país mais populoso. Com 82 milhões de habitantes (7 dos quais estrangeiros), a Alemanha consome 13 vezes a nossa electricidade, o que significa ter 140% do nosso consumo per capita - uma excelente conservação energética, comparando com outros países vizinhos e tendo em conta o seu alto poder de compra!
Desde 1998, data em que o partido Verde chegou ao poder através de alianças com os partidos tradicionais, que a Alemanha proclamou uma voluntarista estratégia "green" visando ter 50% da sua electricidade de origem renovável. A Alemanha foi o primeiro país em que os "verdes", um movimento ideológico internacional de raízes germano-flamengas nascido na extrema-esquerda dos anos 60, e nos movimentos pacifistas (anti-americanos) e anti-nucleares dos anos 70 e 80, chegaram ao poder, apesar de terem menos de 11% do eleitorado.
Uma das primeiras conquistas dos "verdes" alemães foi o compromisso de abandono da energia nuclear na Alemanha em 2000, espírito que com toda a evidência passou também a dominar a política energética do Directório de Bruxelas. É entretanto de notar que, já quando da reunificação alemã em 1990, todos os 5 reactores nucleares da Alemanha de Leste foram encerrados por alegada falta de segurança, o que se inseriu num forte sentimento anti-nuclear que se estabeleceu após Chernobyl (a Alemanha também apostara no nuclear depois do choque petrolífero de 1973, como a França). No entanto, a ideologia dos "verdes" alemães deve ser confrontada com a realidade do seu país.
Ora, contrariamente à filosofia "green" a que a Alemanha tenta conduzir os seus parceiros europeus, a grande fonte da sua electricidade, 46% dela, é... o carvão! Na verdade, a Alemanha só é superada no uso de carvão para produção de electricidade pela China, pela Índia e pelos EUA!
Depois do carvão, a principal fonte da electricidade alemã é... o nuclear! Os seus 17 reactores nucleares geram agora apenas 19% da electricidade consumida, mas há 5 anos geravam 23% e há uma década geravam 27%! De facto, é o nuclear que tem sido o alvo principal dos "verdes", e não as emissões de CO2! E a pressão é de tal ordem que a Siemens, o principal suporte tecnológico e industrial da energia nuclear alemã, tem mesmo vindo a abandonar essa tecnologia, como o atesta a muito recente venda à AREVA francesa da sua parte na parceria que tinham!
Presentemente, dos 35% de electridade gerada sem origem no carvão e no nuclear, 18% são satisfeitos por gás natural importado da Rússia, tendo sido atingidos 17% de origem renovável, de que só 6.5% é eólica (com um péssimo factor de utilização médio de 18%), enquanto o resto se baseia em caríssimo solar, hídricas (3.5%) e, sobretudo, biomassa. Com isto, não admira que a Alemanha tenha a 2ª electricidade mais cara da Europa e que é ainda agravada com um pesado IVA de perto de 20%, redundando num preço ao consumidor que é 50% superior ao nosso!
No entanto, a Alemanha lidera a tecnologia destas fontes renováveis e 80% do mercado alemão de energia eólica é satisfeito por indústria alemã, particularmente pela ENERCON, que também domina o panorama português por decisão de Comissões nomeadas pelo nosso Governo. Como em tempos mostrei, os alemães consideram a subsidiação à energia eólica pelos outros países da União indispensável à prosperidade da sua evoluída indústria de aerogeradores.
Nos últimos anos, o Governo de Merckel tinha vindo a arrepiar caminho na desnuclearização da sua produção energética, dada a impossibilidade de cumprimento das reduções de emissão de CO2 sem o nuclear e com a importância que tem o carvão no país (47 mil empregos). Em 2009 a decisão de encerramento das centrais nucleares acordada com os "verdes" em 1998 foi cancelada, e em 2010 foi autorizada a extensão a 60 anos da licença de funcionamento das centrais perto de atingirem 40 de vida mas, no mês passado, depois de Fukushima e da derrota eleitoral do seu partido, Merckel recuou e fechou as nucleares mais antigas! Com isto e para já, não restará à Alemanha outra solução que o reforço da geração a carvão e das emissões de CO2...!
Esta política alemã pode ser classificada com uma expressão que traduz a defesa da ecologia para os outros mas colocando os seus interesses nacionais primeiro: "nacional-ecologismo"! Com efeito, esta política tem tanto de utopia irracional como de impositiva para os países vizinhos...
Outro dos países vizinhos com que, precisamente, a Alemanha tem tentado ser impositiva, é a Polónia. A Polónia, com uma população semelhante à de Espanha, tem um PIB per capita intermédio entre o da Eslováquia e o da República Checa e um consumo também per capita de cerca de 80% do nosso, apesar do clima frio e de preços da electricidade que são apenas 70% dos nossos antes de IVA.
A situação e a estratégia de futuro polacas têm semelhanças com as da República Checa: a percentagem de electricidade produzida a partir do carvão é ainda maior, 90% (!), com 5% para gás natural e cerca de outro tanto para renováveis (predominantemente hídricas e biomassa)
Entalada entre as pressões para reduzir as emissões de CO2 e a dependência de fornecimento de gás natural da Rússia, a Polónia decidiu apostar na substituição do carvão pelo nuclear, complementando-o com renováveis sobretudo criadoras de emprego - biomassa e biogás, e um pouco de eólica também. A 4 de Junho passado, em entrevista à nossa Vida Económica, a Ministra da Energia da Polónia explicava a aposta do seu país para o cumprimento dos compromissos europeus no domínio da redução de emissões e de energias renováveis: a decisão de substituir o carvão pelo nuclear, e a aposta, além de na eólica, na biomassa e no biogás, que irão ter lá maior peso que cá. E a Ministra justificava: "... prevê-se a criação de cerca de 2 mil centrais a biogás na Polónia. São centrais relativamente pequenas a instalar em todo o país para complementar e criar uma nova fonte de rendimento para o sector agrícola".
O plano polaco, que vem germinando há já alguns anos (de facto desde os anos 90), inclui a devida preparação de recursos humanos e aponta para uma primeira central de 3000 MW, de localização a comprometer em 2013 e construção a iniciar em 2016, para estar pronta em 2020. Nem mesmo os recentes acontecimentos de Fukushima tornaram o apoio popular a esta estratégia inferior a 50%.
Quem já manifestou o seu desagrado com a opção polaca foi a Alemanha. O Presidente do Estado alemão de Bradenburgo pediu à Polónia para desistir do seu projecto (já aprovado pelo Parlamento), ao que o Primeiro-Ministro polaco respondeu: "Calls from a friendly political leader from the other side of the border, Mr. Platzeck, for Poland to stop the project appeared somewhat inappropriate to me. A country that has about 16 nuclear power plants shouldn’t be too concerned with our plans to build the most modern plants available on the market". E o Primeiro-Ministro polaco acrescentou: "We can’t succumb to hysteria about it [Fukushima Daiichi],” ... “The reason for radiological risks in Japan isn’t an accident at the nuclear plant, but an earthquake and tsunami"!...
Da Polónia passamos aos pequenos e pobres estados bálticos.
A Letónia tem 2,2 milhões de habitantes, mas é um país pobre, com metade do consumo energético europeu per capita, apesar do seu preço da electricidade ser dos mais baixos da União (2/3 do nosso). 65% da sua geração eléctrica é hídrica, complementada principalmente com gás natural importado, o que lhe dá o estatuto de país(ito) da União com maior percentagem de energia renovável.
Por outro lado a Lituânia tem 1/3 da população portuguesa (3,37 milhões de habitantes) e caracteriza-se também por uma pobreza considerável, tendo a sua electricidade um dos preços mais baixos da União (65% do nosso) mas mesmo assim um consumo per capita pouco superior ao nosso, apesar do clima gélido. 78% da sua electricidade era de origem nuclear própria, mas o seu mix também inclui 15% de renováveis, essencialmente biomassa. O resto é gerado principalmente a partir de petróleo. Porém, em 2009, a Lituânia foi compelida pela União Europeia a encerrar os seus reactores russos, ficando desde então na penúria energética e quase completamente dependente da Rússia para o fornecimento de electricidade.
Em 2007, entretanto, os três estados bálticos e a Polónia acordaram na construção em parceria de uma central nuclear de 3200 MW (2 reactores modernos) na cidade de Visaginas, perto da fronteira russa. Nos finais de 2010 um concurso internacional para o fornecimento de reactores foi anulado, tendo-se decidido avançar para negociações directas, após reafirmação do apoio ao projecto pelos governos dos 4 países parceiros. Uma potente linha de 400 kV será construída em 2015 entre a Polónia e a Lituânia, e a central espera-se que entre em funcionamento em 2020.
Finalmente a Estónia tem apenas 1,3 milhões de habitantes, e por isso apenas noto que é razoavelmente desenvolvida (o "tigre báltico") e que gera 90% da sua electricidade a partir de um espesso óleo xistoso nacional. O preço da sua electricidade é o mais baixo da União depois do da Bulgária, e a Estónia tem projectado o seu crescimento energético co-participando na central nuclear de Visaginas na Lituânia, embora a Rússia também a pretenda envolver num projecto alternativo de uma nuclear sua em Kalinegrado.
Dos pequenos estados bálticos passamos à Escandinávia, chegando à Finlândia. Com pouco mais de metade da população portugesa, o seu consumo per capita é no entanto 3,4 vezes o nosso (!), de facto o maior da União, com um preço que é, antes de IVA, 70% do de cá.
A base da geração de electricidade finlandesa é a energia nuclear com 4 reactores (30%) e o carvão (30%), mas a Finlândia sofre de um défice energético crónico e importa 13% da sua electricidade. A biomassa e a queima dos lixos geram 16% da restante electricidade, as hídricas 14%, e as eólicas quase nada (0.5%), mas a produção termoeléctrica é também usada para gerar calor para aquecimento urbano.
A Finlândia prevê colmatar o seu défice energético e fazer face ao futuro reforçando a aposta na energia nuclear, relativamente à qual desenvolveu uma exemplarmente apurada tecnologia de exploração. Com um moderno reactor de III geração actualmente em construção pela AREVA, tem ainda projectados mais 2, após aprovação parlamentar com apoio de 60% dos eleitores; os 4 existentes são metade de origem russa, e metade de origem sueca (ABB). O que está em construção deverá entrar em operação em 2013 e, no conjunto, quando todas prontas, as centrais nucleares finlandesas deverão cobrir 60% do consumo nacional.
Da Finlândia passamos à Suécia, que tem um consumo per capita pouco menor que o finlandês (3,1 vezes o nosso) e uma população pouco inferior à nossa (9,35 milhões). Auto-suficiente energeticamente, 45% da sua electricidade é de origem hídrica (barragens situadas no norte do país), mas 40% é nuclear. O resto é essencialmente biomassa, e um pouco de todas as outras, incluindo 1.6% eólica. O preço da electricidade sueca é praticamente igual ao nosso sem IVA, mas o seu IVA é de cerca de 20%, enquanto o nosso é de 6%; ou seja, o Estado lá financia-se na energia!...
Relativamente ao futuro, a Suécia tinha decidido em 1980, após o acidente de Three Miles Island, não renovar os seus 10 reactores nucleares de fabrico nacional quando atingissem o seu fim de vida, mas essa decisão, nunca posta de facto em prática, foi revogada em 2010. No entanto, a energia nuclear é ali penalizada com um imposto especial de 0,67ç/kWh, mais reforçando o financiamento do Estado com a energia. Quanto ao futuro, a Suécia sofre de uma ambiguidade persistente: uma maioria da população diz-se anti-nuclear, mas quando sondada sobre a forma de energia preferida para a substituição do nuclear de que dispõe e colocada perante as alternativas, a resposta maioritária é... energia nuclear!
O último estado escandinavo da União é a Dinamarca, o país com a electricidade mais cara do Mundo: 140% do preço da nossa sem IVA e ainda penalizada por um IVA de 20%!Apesar disso, os 5,5 milhões de habitantes da Dinamarca consomem per capita o mesmo que os alemães (140% do que nós consumimos), e a Dinamarca passa por ser a campeã das energias renováveis, dado ser assumidamente anti-nuclearista (desde 1985) e ter o maior e mais antigo fabricante e exportador de aerogeradores do Mundo: a VESTAS. No entanto, também aqui a realidade deve ser comparada com os princípios anunciados.
Praticamente metade da electricidade dinamarquesa é produzida a partir de... carvão (49%)! Depois, e em pé de igualdade com a energia eólica (19%), o gás natural, e os 13% restantes são divididos pela biomassa (6%), queima de lixos e petróleo. Como se vê, a Dinamarca está longe de dar o exemplo na "luta contra o aquecimento global" que promove internacionalmente e que interessa à exportação dos seus aerogeradores!
Passando à vizinha Holanda, um país com metade da área de Portugal mas 16,7 milhões de habitantes, um preço da electricidade sem IVA ligeiramente inferior ao nosso mas penalizado com 20% de IVA. A Holanda tem um consumo per capita de 155% o nosso, e importa 13% da electricidade que consome. Da que produz, a principal parcela é gerada por gás natural (59%), mais de metade da qual em cogeração. O resto é gerado por carvão (25%), biomassa e lixos (6%), eólicas (4%) e um pequeno reactor nuclear (4%).
Recentemente a Holanda estudou a melhor estratégia a adoptar para a descarbonização da sua produção energética com vista à redução das emissões de CO2 definida pela União para 2020, concluindo que, para além de um substancial incremento de energia eólica (que não deverá ultrapassar 14%, de modo a evitar os custos adicionais de armazenagem e reserva a gás), o grosso deverá assentar na energia nuclear. Uma 1ª grande central nuclear de 2500 MW deverá começar a ser construída em 2015, para operação em 2019, de fabrico americano-japonês (AP1000), e há outro consórcio já a preparar uma segunda central nuclear.
Descendo à Bélgica, um país tradicionalmente conservador, verifica-se uma curiosa contradição: politicamente, tanto o Governo como boa parte da população é anti-nuclearista, mas na prática o que se verifica é o seguinte mix de geração eléctrica: 53% da electricidade é de origem nuclear (7 reactores), 37% de origem em carvão e gás natural, e o resto divide-se em partes iguais entre eólicas e biomassa!
Quanto ao futuro, a Bélgica propõe-se duplicar a parcela de fontes renováveis de electricidade (mantendo a paridade entre eólicas e biomassa), para 20%, em 2020 - o que lhe poderá substituir metade da geração a combustíveis fósseis, mas não mais que isso...! A Bélgica tem praticamente a nossa população embora vivendo num terço do nosso território, mas consome quase o dobro (186%) da nossa electricidade, com um preço da mesma de 113% o nosso antes de IVA, mas com o habitual IVA de 20%.
Para terminar o tour, as ilhas grandes: Irlanda e Reino Unido. A Irlanda tem uma produção de electricidade que é praticamente metade da nossa e, sendo uma ilha eléctrica, teria muito dificuldade em gerir uma grande central termoeléctrica. Por isso não admira que 50% da sua geração seja a gás natural, 30% a carvão, 12% a gasóleo, e 5.5% de renováveis. Com bom vento na sua orla costeira, é daqueles países onde faz sentido económico maximizar a componente eólica, e com efeito a Irlanda tem uma excelente regulamentação técnica na matéria. O seu consumo per capita é praticamente igual à média europeia (120% do nosso) e o preço da electricidade também 120% do nosso, devido também a um IVA duplo do nosso...
Finalmente, o Reino Unido (UK). A produção de electricidade deste país é 7,6 vezes a nossa, com um consumo per capita de 125% o nosso (o UK tem 62 milhões de habitantes). O preço da electricidade é ali 12% inferior ao nosso, sendo o único país da União onde o IVA é também ligeiramente inferior ao nosso, 5% - mas só para as famílias; para as empresas o IVA é perto do usual, 17.5%.
As fontes de geração eléctrica no UK são, por ordem decrescente de importância: gás natural (44%), carvão (28%), nuclear (18%) e renováveis (7%) - biomassa (3%), eólica (2.5%) e hídrica (1.5%).
Nos finais dos anos 90 a energia nuclear detinha uma quota de produção de 25%, gerada em 19 reactores de concepção e fabrico ingleses, e o carvão também muito mais que actualmente (35%), mas o encerramento gradual das velhas centrais nucleares à medida que atingem o fim de vida, e a necessidade de reduzir as emissões de CO2 do carvão, têm levado a uma quota crescente de gás natural. Este tem já por origem a importação em 50%, e tê-la-á em 75% em 2015 à medida que as reservas geológicas nacionais de gás se esgotarem, o que coloca o UK numa indesejada situação de dependência energética.
Por esta razão, e também pelo compromisso do UK em reduzir as emissões de CO2, a enunciada estratégia britânica para o futuro baseia-se em dois eixos: o reforço das renováveis, e a substituição das velhas centrais nucleares por novas.
Existem planos dos ecotópicos e do lobby eólico para levar a energia eólica até 20%, valor praticamente impossível de gerir dada a intermitência do vento, mas que deve ter em conta que a costa do UK tem das melhores condições da Europa (factor de capacidade médio do vento de 30%). Porém, mesmo com tal percentagem ainda haverá mais de 70% de electricidade gerada por meios térmicos, e por isso o Governo do UK alterou em 2006 a política desfavorável ao nuclear que tinha tido até aí, nos últimos anos.
Em resultado desta alteração constituiram-se dois consórcios para a construção de novas centrais nucleares no UK: a Horizon Nuclear Power e a NuGeneration. Esta última projecta iniciar a construção de uma central de 3200 MW em 2015 (AREVA), e a primeira planeia ter 6000 MW, com reactores AP1000 (Toshiba-Westinghouse) - todos de III geração.
Como se vê, a cortina de silêncio, que os nossos ecotópicos e os interesses económicos com eles aliados alimentam, esconde uma realidade muito diferente da propagada!
Viajando agora para norte da República Checa, chegamos à Alemanha, o coração da União, o seu motor económico e também o seu país mais populoso. Com 82 milhões de habitantes (7 dos quais estrangeiros), a Alemanha consome 13 vezes a nossa electricidade, o que significa ter 140% do nosso consumo per capita - uma excelente conservação energética, comparando com outros países vizinhos e tendo em conta o seu alto poder de compra!
Desde 1998, data em que o partido Verde chegou ao poder através de alianças com os partidos tradicionais, que a Alemanha proclamou uma voluntarista estratégia "green" visando ter 50% da sua electricidade de origem renovável. A Alemanha foi o primeiro país em que os "verdes", um movimento ideológico internacional de raízes germano-flamengas nascido na extrema-esquerda dos anos 60, e nos movimentos pacifistas (anti-americanos) e anti-nucleares dos anos 70 e 80, chegaram ao poder, apesar de terem menos de 11% do eleitorado.
Uma das primeiras conquistas dos "verdes" alemães foi o compromisso de abandono da energia nuclear na Alemanha em 2000, espírito que com toda a evidência passou também a dominar a política energética do Directório de Bruxelas. É entretanto de notar que, já quando da reunificação alemã em 1990, todos os 5 reactores nucleares da Alemanha de Leste foram encerrados por alegada falta de segurança, o que se inseriu num forte sentimento anti-nuclear que se estabeleceu após Chernobyl (a Alemanha também apostara no nuclear depois do choque petrolífero de 1973, como a França). No entanto, a ideologia dos "verdes" alemães deve ser confrontada com a realidade do seu país.
Ora, contrariamente à filosofia "green" a que a Alemanha tenta conduzir os seus parceiros europeus, a grande fonte da sua electricidade, 46% dela, é... o carvão! Na verdade, a Alemanha só é superada no uso de carvão para produção de electricidade pela China, pela Índia e pelos EUA!
Depois do carvão, a principal fonte da electricidade alemã é... o nuclear! Os seus 17 reactores nucleares geram agora apenas 19% da electricidade consumida, mas há 5 anos geravam 23% e há uma década geravam 27%! De facto, é o nuclear que tem sido o alvo principal dos "verdes", e não as emissões de CO2! E a pressão é de tal ordem que a Siemens, o principal suporte tecnológico e industrial da energia nuclear alemã, tem mesmo vindo a abandonar essa tecnologia, como o atesta a muito recente venda à AREVA francesa da sua parte na parceria que tinham!
Presentemente, dos 35% de electridade gerada sem origem no carvão e no nuclear, 18% são satisfeitos por gás natural importado da Rússia, tendo sido atingidos 17% de origem renovável, de que só 6.5% é eólica (com um péssimo factor de utilização médio de 18%), enquanto o resto se baseia em caríssimo solar, hídricas (3.5%) e, sobretudo, biomassa. Com isto, não admira que a Alemanha tenha a 2ª electricidade mais cara da Europa e que é ainda agravada com um pesado IVA de perto de 20%, redundando num preço ao consumidor que é 50% superior ao nosso!
No entanto, a Alemanha lidera a tecnologia destas fontes renováveis e 80% do mercado alemão de energia eólica é satisfeito por indústria alemã, particularmente pela ENERCON, que também domina o panorama português por decisão de Comissões nomeadas pelo nosso Governo. Como em tempos mostrei, os alemães consideram a subsidiação à energia eólica pelos outros países da União indispensável à prosperidade da sua evoluída indústria de aerogeradores.
Nos últimos anos, o Governo de Merckel tinha vindo a arrepiar caminho na desnuclearização da sua produção energética, dada a impossibilidade de cumprimento das reduções de emissão de CO2 sem o nuclear e com a importância que tem o carvão no país (47 mil empregos). Em 2009 a decisão de encerramento das centrais nucleares acordada com os "verdes" em 1998 foi cancelada, e em 2010 foi autorizada a extensão a 60 anos da licença de funcionamento das centrais perto de atingirem 40 de vida mas, no mês passado, depois de Fukushima e da derrota eleitoral do seu partido, Merckel recuou e fechou as nucleares mais antigas! Com isto e para já, não restará à Alemanha outra solução que o reforço da geração a carvão e das emissões de CO2...!
Esta política alemã pode ser classificada com uma expressão que traduz a defesa da ecologia para os outros mas colocando os seus interesses nacionais primeiro: "nacional-ecologismo"! Com efeito, esta política tem tanto de utopia irracional como de impositiva para os países vizinhos...
Outro dos países vizinhos com que, precisamente, a Alemanha tem tentado ser impositiva, é a Polónia. A Polónia, com uma população semelhante à de Espanha, tem um PIB per capita intermédio entre o da Eslováquia e o da República Checa e um consumo também per capita de cerca de 80% do nosso, apesar do clima frio e de preços da electricidade que são apenas 70% dos nossos antes de IVA.
A situação e a estratégia de futuro polacas têm semelhanças com as da República Checa: a percentagem de electricidade produzida a partir do carvão é ainda maior, 90% (!), com 5% para gás natural e cerca de outro tanto para renováveis (predominantemente hídricas e biomassa)
Entalada entre as pressões para reduzir as emissões de CO2 e a dependência de fornecimento de gás natural da Rússia, a Polónia decidiu apostar na substituição do carvão pelo nuclear, complementando-o com renováveis sobretudo criadoras de emprego - biomassa e biogás, e um pouco de eólica também. A 4 de Junho passado, em entrevista à nossa Vida Económica, a Ministra da Energia da Polónia explicava a aposta do seu país para o cumprimento dos compromissos europeus no domínio da redução de emissões e de energias renováveis: a decisão de substituir o carvão pelo nuclear, e a aposta, além de na eólica, na biomassa e no biogás, que irão ter lá maior peso que cá. E a Ministra justificava: "... prevê-se a criação de cerca de 2 mil centrais a biogás na Polónia. São centrais relativamente pequenas a instalar em todo o país para complementar e criar uma nova fonte de rendimento para o sector agrícola".
O plano polaco, que vem germinando há já alguns anos (de facto desde os anos 90), inclui a devida preparação de recursos humanos e aponta para uma primeira central de 3000 MW, de localização a comprometer em 2013 e construção a iniciar em 2016, para estar pronta em 2020. Nem mesmo os recentes acontecimentos de Fukushima tornaram o apoio popular a esta estratégia inferior a 50%.
Quem já manifestou o seu desagrado com a opção polaca foi a Alemanha. O Presidente do Estado alemão de Bradenburgo pediu à Polónia para desistir do seu projecto (já aprovado pelo Parlamento), ao que o Primeiro-Ministro polaco respondeu: "Calls from a friendly political leader from the other side of the border, Mr. Platzeck, for Poland to stop the project appeared somewhat inappropriate to me. A country that has about 16 nuclear power plants shouldn’t be too concerned with our plans to build the most modern plants available on the market". E o Primeiro-Ministro polaco acrescentou: "We can’t succumb to hysteria about it [Fukushima Daiichi],” ... “The reason for radiological risks in Japan isn’t an accident at the nuclear plant, but an earthquake and tsunami"!...
Da Polónia passamos aos pequenos e pobres estados bálticos.
A Letónia tem 2,2 milhões de habitantes, mas é um país pobre, com metade do consumo energético europeu per capita, apesar do seu preço da electricidade ser dos mais baixos da União (2/3 do nosso). 65% da sua geração eléctrica é hídrica, complementada principalmente com gás natural importado, o que lhe dá o estatuto de país(ito) da União com maior percentagem de energia renovável.
Por outro lado a Lituânia tem 1/3 da população portuguesa (3,37 milhões de habitantes) e caracteriza-se também por uma pobreza considerável, tendo a sua electricidade um dos preços mais baixos da União (65% do nosso) mas mesmo assim um consumo per capita pouco superior ao nosso, apesar do clima gélido. 78% da sua electricidade era de origem nuclear própria, mas o seu mix também inclui 15% de renováveis, essencialmente biomassa. O resto é gerado principalmente a partir de petróleo. Porém, em 2009, a Lituânia foi compelida pela União Europeia a encerrar os seus reactores russos, ficando desde então na penúria energética e quase completamente dependente da Rússia para o fornecimento de electricidade.
Em 2007, entretanto, os três estados bálticos e a Polónia acordaram na construção em parceria de uma central nuclear de 3200 MW (2 reactores modernos) na cidade de Visaginas, perto da fronteira russa. Nos finais de 2010 um concurso internacional para o fornecimento de reactores foi anulado, tendo-se decidido avançar para negociações directas, após reafirmação do apoio ao projecto pelos governos dos 4 países parceiros. Uma potente linha de 400 kV será construída em 2015 entre a Polónia e a Lituânia, e a central espera-se que entre em funcionamento em 2020.
Finalmente a Estónia tem apenas 1,3 milhões de habitantes, e por isso apenas noto que é razoavelmente desenvolvida (o "tigre báltico") e que gera 90% da sua electricidade a partir de um espesso óleo xistoso nacional. O preço da sua electricidade é o mais baixo da União depois do da Bulgária, e a Estónia tem projectado o seu crescimento energético co-participando na central nuclear de Visaginas na Lituânia, embora a Rússia também a pretenda envolver num projecto alternativo de uma nuclear sua em Kalinegrado.
Dos pequenos estados bálticos passamos à Escandinávia, chegando à Finlândia. Com pouco mais de metade da população portugesa, o seu consumo per capita é no entanto 3,4 vezes o nosso (!), de facto o maior da União, com um preço que é, antes de IVA, 70% do de cá.
A base da geração de electricidade finlandesa é a energia nuclear com 4 reactores (30%) e o carvão (30%), mas a Finlândia sofre de um défice energético crónico e importa 13% da sua electricidade. A biomassa e a queima dos lixos geram 16% da restante electricidade, as hídricas 14%, e as eólicas quase nada (0.5%), mas a produção termoeléctrica é também usada para gerar calor para aquecimento urbano.
A Finlândia prevê colmatar o seu défice energético e fazer face ao futuro reforçando a aposta na energia nuclear, relativamente à qual desenvolveu uma exemplarmente apurada tecnologia de exploração. Com um moderno reactor de III geração actualmente em construção pela AREVA, tem ainda projectados mais 2, após aprovação parlamentar com apoio de 60% dos eleitores; os 4 existentes são metade de origem russa, e metade de origem sueca (ABB). O que está em construção deverá entrar em operação em 2013 e, no conjunto, quando todas prontas, as centrais nucleares finlandesas deverão cobrir 60% do consumo nacional.
Da Finlândia passamos à Suécia, que tem um consumo per capita pouco menor que o finlandês (3,1 vezes o nosso) e uma população pouco inferior à nossa (9,35 milhões). Auto-suficiente energeticamente, 45% da sua electricidade é de origem hídrica (barragens situadas no norte do país), mas 40% é nuclear. O resto é essencialmente biomassa, e um pouco de todas as outras, incluindo 1.6% eólica. O preço da electricidade sueca é praticamente igual ao nosso sem IVA, mas o seu IVA é de cerca de 20%, enquanto o nosso é de 6%; ou seja, o Estado lá financia-se na energia!...
Relativamente ao futuro, a Suécia tinha decidido em 1980, após o acidente de Three Miles Island, não renovar os seus 10 reactores nucleares de fabrico nacional quando atingissem o seu fim de vida, mas essa decisão, nunca posta de facto em prática, foi revogada em 2010. No entanto, a energia nuclear é ali penalizada com um imposto especial de 0,67ç/kWh, mais reforçando o financiamento do Estado com a energia. Quanto ao futuro, a Suécia sofre de uma ambiguidade persistente: uma maioria da população diz-se anti-nuclear, mas quando sondada sobre a forma de energia preferida para a substituição do nuclear de que dispõe e colocada perante as alternativas, a resposta maioritária é... energia nuclear!
O último estado escandinavo da União é a Dinamarca, o país com a electricidade mais cara do Mundo: 140% do preço da nossa sem IVA e ainda penalizada por um IVA de 20%!Apesar disso, os 5,5 milhões de habitantes da Dinamarca consomem per capita o mesmo que os alemães (140% do que nós consumimos), e a Dinamarca passa por ser a campeã das energias renováveis, dado ser assumidamente anti-nuclearista (desde 1985) e ter o maior e mais antigo fabricante e exportador de aerogeradores do Mundo: a VESTAS. No entanto, também aqui a realidade deve ser comparada com os princípios anunciados.
Praticamente metade da electricidade dinamarquesa é produzida a partir de... carvão (49%)! Depois, e em pé de igualdade com a energia eólica (19%), o gás natural, e os 13% restantes são divididos pela biomassa (6%), queima de lixos e petróleo. Como se vê, a Dinamarca está longe de dar o exemplo na "luta contra o aquecimento global" que promove internacionalmente e que interessa à exportação dos seus aerogeradores!
Passando à vizinha Holanda, um país com metade da área de Portugal mas 16,7 milhões de habitantes, um preço da electricidade sem IVA ligeiramente inferior ao nosso mas penalizado com 20% de IVA. A Holanda tem um consumo per capita de 155% o nosso, e importa 13% da electricidade que consome. Da que produz, a principal parcela é gerada por gás natural (59%), mais de metade da qual em cogeração. O resto é gerado por carvão (25%), biomassa e lixos (6%), eólicas (4%) e um pequeno reactor nuclear (4%).
Recentemente a Holanda estudou a melhor estratégia a adoptar para a descarbonização da sua produção energética com vista à redução das emissões de CO2 definida pela União para 2020, concluindo que, para além de um substancial incremento de energia eólica (que não deverá ultrapassar 14%, de modo a evitar os custos adicionais de armazenagem e reserva a gás), o grosso deverá assentar na energia nuclear. Uma 1ª grande central nuclear de 2500 MW deverá começar a ser construída em 2015, para operação em 2019, de fabrico americano-japonês (AP1000), e há outro consórcio já a preparar uma segunda central nuclear.
Descendo à Bélgica, um país tradicionalmente conservador, verifica-se uma curiosa contradição: politicamente, tanto o Governo como boa parte da população é anti-nuclearista, mas na prática o que se verifica é o seguinte mix de geração eléctrica: 53% da electricidade é de origem nuclear (7 reactores), 37% de origem em carvão e gás natural, e o resto divide-se em partes iguais entre eólicas e biomassa!
Quanto ao futuro, a Bélgica propõe-se duplicar a parcela de fontes renováveis de electricidade (mantendo a paridade entre eólicas e biomassa), para 20%, em 2020 - o que lhe poderá substituir metade da geração a combustíveis fósseis, mas não mais que isso...! A Bélgica tem praticamente a nossa população embora vivendo num terço do nosso território, mas consome quase o dobro (186%) da nossa electricidade, com um preço da mesma de 113% o nosso antes de IVA, mas com o habitual IVA de 20%.
Para terminar o tour, as ilhas grandes: Irlanda e Reino Unido. A Irlanda tem uma produção de electricidade que é praticamente metade da nossa e, sendo uma ilha eléctrica, teria muito dificuldade em gerir uma grande central termoeléctrica. Por isso não admira que 50% da sua geração seja a gás natural, 30% a carvão, 12% a gasóleo, e 5.5% de renováveis. Com bom vento na sua orla costeira, é daqueles países onde faz sentido económico maximizar a componente eólica, e com efeito a Irlanda tem uma excelente regulamentação técnica na matéria. O seu consumo per capita é praticamente igual à média europeia (120% do nosso) e o preço da electricidade também 120% do nosso, devido também a um IVA duplo do nosso...
Finalmente, o Reino Unido (UK). A produção de electricidade deste país é 7,6 vezes a nossa, com um consumo per capita de 125% o nosso (o UK tem 62 milhões de habitantes). O preço da electricidade é ali 12% inferior ao nosso, sendo o único país da União onde o IVA é também ligeiramente inferior ao nosso, 5% - mas só para as famílias; para as empresas o IVA é perto do usual, 17.5%.
As fontes de geração eléctrica no UK são, por ordem decrescente de importância: gás natural (44%), carvão (28%), nuclear (18%) e renováveis (7%) - biomassa (3%), eólica (2.5%) e hídrica (1.5%).
Nos finais dos anos 90 a energia nuclear detinha uma quota de produção de 25%, gerada em 19 reactores de concepção e fabrico ingleses, e o carvão também muito mais que actualmente (35%), mas o encerramento gradual das velhas centrais nucleares à medida que atingem o fim de vida, e a necessidade de reduzir as emissões de CO2 do carvão, têm levado a uma quota crescente de gás natural. Este tem já por origem a importação em 50%, e tê-la-á em 75% em 2015 à medida que as reservas geológicas nacionais de gás se esgotarem, o que coloca o UK numa indesejada situação de dependência energética.
Por esta razão, e também pelo compromisso do UK em reduzir as emissões de CO2, a enunciada estratégia britânica para o futuro baseia-se em dois eixos: o reforço das renováveis, e a substituição das velhas centrais nucleares por novas.
Existem planos dos ecotópicos e do lobby eólico para levar a energia eólica até 20%, valor praticamente impossível de gerir dada a intermitência do vento, mas que deve ter em conta que a costa do UK tem das melhores condições da Europa (factor de capacidade médio do vento de 30%). Porém, mesmo com tal percentagem ainda haverá mais de 70% de electricidade gerada por meios térmicos, e por isso o Governo do UK alterou em 2006 a política desfavorável ao nuclear que tinha tido até aí, nos últimos anos.
Em resultado desta alteração constituiram-se dois consórcios para a construção de novas centrais nucleares no UK: a Horizon Nuclear Power e a NuGeneration. Esta última projecta iniciar a construção de uma central de 3200 MW em 2015 (AREVA), e a primeira planeia ter 6000 MW, com reactores AP1000 (Toshiba-Westinghouse) - todos de III geração.
Como se vê, a cortina de silêncio, que os nossos ecotópicos e os interesses económicos com eles aliados alimentam, esconde uma realidade muito diferente da propagada!
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sábado, abril 23, 2011
O mix eléctrico europeu: I - Sul e Centro
Muita gente em Portugal, despertada para a questão pelo acidente de Fukushima-Daiichi, ficou surpreendida ao descobrir a importância da componente nuclear na produção de energia "lá fora". De facto, a avaliar pelo silêncio sobre energia nuclear em Portugal dos media, políticos e académicos, esta seria uma curiosidade histórica, quiçá uma extravagância científica de alguns Físicos do Instituto Superior Técnico...
Esta ignorância é o fruto do tabu que o Governo, o lobby eólico e a esquerda "radical" ecotópica (ecologista utópica) criaram, assente na ignorância científica e na tradicional aversão à tecnologia industrial de um povo saído quase directamente do mundo rural para o deslumbramento dos centros comerciais...
Lembrei-me, por isso, de fazer um pequeno tour por esta Europa a que nos oferecemos no rescaldo do abandono das seculares posições ultramarinas, de modo a mostrar a realidade do que respeita às políticas energéticas dos nossos vizinhos e parceiros.
No conjunto, a Europa dos 27 produz 28% da sua electricidade a partir de centrais nucleares, 27% a partir do carvão, 23% a partir de gás natural, e 3% a partir de petróleo. A energia renovável divide-se em 10.5% de hídricas, 4% de eólicas e 3.5% de biomassa. Sim, por mais que isso espante, o nuclear é a principal origem da electricidade da União Europeia e é também a sua principal fonte não emissora de CO2...!
A Espanha, cujo consumo anual per capita é de 5,67 Mwh e que no total consome 6 vezes o que nós consumimos, tem 8 reactores nucleares, com apenas 7.5% da potência total instalada mas que geram 20% da sua electricidade. Foram construídos entre 1964 e 1986, mas depois de Chernobyl (1986) a Espanha desistiu de outras três centrais que estavam planeadas, embora tenha vindo a aumentar a capacidade das existentes.
A restante termo-electricidade é produzida a partir de carvão (10%, parte dele espanhol) e gás natural (30%, importado da Argélia). As renováveis hidroeléctricas e eólicas geram respectivamente 15% e 17%, e há ainda uma produção exorbitantemente cara de 3% de energia solar, com 1.6% de toda a intermitente electricidade eólica e solar perdida em dispendiosa bodmbagem. O resto vem de biomassa, lixos, etc. Os preços da electricidade espanhola são pouco superiores aos nossos (e é no IVA que o são) e têm ajudado a desenvolver uma indústria de aerogeradores de tecnologia genuinamente espanhola que exporta bem (GAMESA), mas o défice tarifário de nuestros hermanos vai em 16,5 biliões (milhares de milhões) de €...
Continuando o tour, a França, cujo consumo per capita é de 6,8 Mwh, é o grande produtor de electricidade da Europa: exporta quase 1/4 da sua produção, de que 75% é de origem nuclear (incluindo indirectamente para Portugal, que importa de Espanha praticamente a mesma quantidade que esta importa de França). Tem 58 reactores de concepção e fabrico nacionais, sendo aliás o único país europeu com uma sólida indústria fabricante de reactores, na AREVA. Esta aposta na energia nuclear seguiu-se ao choque petrolífero de 1973 e consolidou-se nas décadas de 80 e 90, mas a França também gera electricidade a partir do carvão e gás natural (9% destas fontes), hídricas (12.5%) e de eólicas, biogás e biomassa (2.7%). A electricidade em França é cerca de 40% mais barata que por cá e a EDF acaba de pôr no mercado livre boa parte dela a partir de Julho, a 4,0 ç/kwh...
A seguir neste tour temos a Itália, que também consome 10% da sua electricidade de origem nuclear, mas... francesa! Presentemente, com um consumo anual per capita de 5,5 Mwh, a Itália importa 1/7 da electricidade que consome, de França e da Suíça, e daí a componente nuclear no seu consumo (metade da electricidade importada vem da Suíça, mas esta por sua vez importa-a de França e da Alemanha). Da que produz, 54% é gerada a gás natural, 15% a partir do carvão, 9% de petróleo, 14% de hídricas e 3% de eólicas. O preço da electricidade em Itália é praticamente o dobro do francês, e isto resulta essencialmente do seu mix, muito dependente do gás e do petróleo e de importações (e altamente poluidor). E porque é isto assim em Itália?
Porque um referendo em 1987 decidiu, no rescaldo de Chernobyl (1986), encerrar as 4 centrais nucleares de que a Itália dispunha! E, no entanto, a Itália tinha sido pioneira no uso da energia nuclear, tendo a sua primeira central (de concepção inglesa) a funcionar no início dos anos 60 e tido sempre uma activa participação na I&D internacional na matéria!...
Com tanto consumo de gás natural, totalmente importado de países de estabilidade duvidosa (especialmente Argélia e Rússia), em 2009 a Itália decidiu regressar ao nuclear, planeando vir a ter 25% da sua produção energética a partir dessa fonte até 2030, com 4 centrais já previstas a serem construídas com a colaboração da EDF. Porém, os opositores políticos do actual Governo, que incluem os herdeiros de uma extrema-esquerda radical, conseguiram que a questão vá de novo a referendo, o que estava previsto para Junho mas, com os acontecimentos de Fukushima e uma sondagem a indicar 70% de oposição à energia nuclear, o Governo decidiu adiar qualquer nova decisão na matéria...
Prosseguindo a viagem, a Áustria, com uma população um pouco menor que a nossa (8,3 milhões), uma área semelhante e um consumo per capita de 160% o nosso, produz a grande maioria da sua electricidade a partir de hídricas alpinas (mais de 50%), mas também da biomassa, queima de lixo e eólicas, totalizando a produção renovável 65% do seu mix. A produção hidroeléctrica austríaca é ímpar na Europa, tendo sempre aquele país explorado muito bem as excelentes condições naturais dos Alpes para isso! No entanto, os preços da electricidade na Áustria são superiores à média europeia...
A Hungria, antiga parceira da Áustria no Império dos Habsburgos e com a mesma população que nós, não tem Alpes, e por isso a sua produção de electricidade é quase toda de origem térmica: 37% nuclear, 38% a gás natural, 17% a carvão, e o resto essencialmente biomassa (4.5%). A parcela nuclear é produzida por 4 reactores pequenos (470 MW cada), de origem russa (anos 80). A Hungria que, juntamente com os seus vizinhos, tem uma dependência do gás natural russo de que não gosta, tem porém uma electricidade muito barata, mesmo ligeiramente mais que a francesa, mas ainda assim o seu consumo per capita é apenas 80% do nosso (e metade do do seu vizinho austríaco) e tem que importar 10% da electricidade que consome da vizinha Eslováquia. Em 2009 o Parlamento húngaro aprovou (por uma maioria de 95%) um ambicioso programa para resolver esta dependência equipando-se até 2030 de 6000 MW de centrais... nucleares. Mas agora das grandes e modernas!...
Vale a pena notar que o poder político magiar tem um forte pendor nacionalista, o que talvez explique a falta de coragem de Bruxelas para contrariar esta decisão húngara...
Da Hungria descemos à Eslovénia, um paísito com 2 milhões de habitantes mas com um consumo per capita de 6,0 MWh, bem superior ao nosso. 40% da electricidade que consome é nuclear, de um único reactor de concepção americana partilhado a meias com a vizinha Croácia. O resto da electricidade é gerada sobretudo a partir do carvão e gás natural (30%), hídricas e geotermia (24%), mas a "EDP eslovena" propôs ao Governo a construção de um 2º reactor nuclear, desta vez sem partilha com a Croácia, e que aguarda decisão do Parlamento. Esta decisão, inicialmente apontada para o corrente ano de 2011, foi agora adiada, com Fukushima e um manifesto desagrado de Bruxelas por esta opção eslovena. A alternativa mais encarada para as necessidades de curto prazo é um reforço da queima de carvão, o que leva a questionar se com isso o país cumprirá a meta de redução das emissões de CO2 em 20% para 2020. Mas, quanto a isso, o Governo esloveno assobia para o ar, pois é evidente que a sua prioridade é manter os preços da electricidade entre os mais baixos da Europa, apenas ligeiramente superiores aos franceses, e para isso não tem saída para o dilema entre o carvão e o nuclear.
A sul temos depois a Grécia, o nosso companheiro de ranking habitual desde há 40 anos e com um consumo per capita 13% superior ao nosso e 11 milhões de habitantes. Porém, ao contrário de nós mas em harmonia com os seus vizinhos, a Grécia mantém os preços da sua electricidade entre os mais baixos da Europa (apenas 60% da média europeia), graças sobretudo a ter 60% da sua geração assente em carvão nacional. Tem também, no entanto, uns 8% de produção a petróleo, mas por causa das suas muitas ilhas (as ilhas baseiam sempre a sua geração eléctrica em Grupos Diesel, na Grécia como em Portugal). No continente, ao carvão a Grécia adiciona uns 20% de gás natural, percentagem em crescimento, e também já uma percentagem significativa de renováveis, hídricas (4%) e eólicas (5%).
A Grécia vê-se em apuros para manter o poluente carvão como base da sua produção energética, considerando a "multa" de cerca de 20€/tonelada de CO2 que tem de pagar por causa dele e as exigências de Bruxelas para que reduza essas emissões mas, por outro lado, e dado que as reservas de linhito que tem dão para mais 30 anos e que a sua extracção é um forte criador de emprego, a Grécia não tem manifestado pressa em mandar para o desemprego os seus mineiros para em troca passar a importar areogeradores estrangeiros.
Em 2008 o Governo da altura mencionou publicamente a energia nuclear como solução para o dilema economia vs. ambiente, notando que a energia nuclear era "verde", mas o comissário europeu do Ambiente repreendeu-o de imediato contrariando que "a energia nuclear não pertence ao grupo das energias renováveis", logo secundado por um coro de protestos anti-nuclearistas dos partidos da oposição gregos e pelo Greenpeace.
Apesar da Grécia se ter calado desde então e tentado ser uma "boa aluna" desta ideologia que governa Bruxelas, e dos seus papagaios gregos terem entretanto ascendido à governação no país, a Grécia não parece ter ganho com isso qualquer condescendência europeia quando a bancarrota lhe bateu à porta, como sabemos. Vai até ter que "reestruturar a dívida" (ou seja, declarar falência), parece...
Da Grécia passamos à Bulgária, que tem um consumo per capita muito semelhante ao nosso e 7,5 milhões de habitantes, mas que até 2006 exportava 1/6 da electricidade que produzia para os seus vizinhos, incluindo a Grécia, porque a tinha barata e de sobra, graças... a 6 reactores nucleares de fabrico russo que garantiam 42% da sua produção. O resto era gerado a partir do carvão (41%), hídricas (10%) e gás natural. A Bulgária ainda tem a electricidade mais barata da Europa, a cerca de 40% do preço da nossa.
Quando iniciou as negociações para a adesão à União Europeia, Bruxelas questionou a segurança das centrais nucleares búlgaras, de concepção similar à de Chernobyl, e apesar dos esforços e investimentos feitos para melhorar essa segurança, dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica e da própria União Europeia terem considerado que com isso 4 dos 6 reactores tinham agora a segurança requerida, apesar das sondagens mostrarem um apoio de 75% da população à continuação dos reactores, a União Europeia exigiu o fecho de 4 deles como condição de ingresso da Bulgária na União. E, assim, a Bulgária encerrou 4 dos seus 6 reactores nucleares em Dexembro de 2006 para ingressar na União Europeia a 1 de Janeiro de 2007. Mesmo assim, os 2 reactores nucleares sobreviventes ainda geram 35% da electricidade búlgara...
Entretanto, e logo que fechou os seus velhos reactores, a Bulgária começou a projectar a construção de 2 novos (de 1000 MW cada), vindo a criar-se uma parceria entre russos, a AREVA francesa e empresas búlgaras, e que obteve a aprovação técnica da União Europeia. A preparação da construção iniciou-se em 2008 mas, em Fevereiro passado (antes de Fukushima), a empresa russa ROSATOM abandonou o projecto: havia muita coisa obscura nos termos do contrato, desde um preço de construção prometido irrealistamente baixo até à inexistência de um compromisso dos russos sobre qual viria a ser de facto o preço final, e o Governo búlgaro começou a hesitar, algo a que se sujeita um país sem instituições reguladoras nem técnicas apropriadas como a Bulgária, que no passado cedera a sua soberania nestes aspectos à URSS. A Finlândia ofereceu-se para dar a devida assessoria técnica, em troca de 1% do valor do projecto, mas a Bulgária não consegue financiamento para o mesmo.
Penso termos aqui um exemplo do que se passaria por cá se avançássemos para a compra de uma nuclear sem estruturas nenhumas preparadas para isso, como tenho vindo a reclamar...
Passando à Roménia, cujos preços da electricidade são cerca de 55% dos nossos e que tem um consumo nacional quase igual ao nosso mas 21 milhões de habitantes, a base da sua geração é também o poluente carvão (40%), a que junta o gás natural (19%), mas que tem também 29% de produção hidroeléctrica e, desde 1996... nuclear. Com um primeiro reactor entrado em funcionamento em 1996 e um segundo recentemente (2007), a Roménia produz já 15% da sua electricidade a partir desta origem, e tornou-se exportadora. Além disso, o projecto de novos reactores prossegue e, depois de ter resolvido sérias dificuldades de financiamento com uma parceria multi-nacional, o 3º reactor deverá entrar em funcionamento em 2016 e um 4º por volta de 2020. Os reactores são também usados para aquecimento distrital e a energia nuclear é a aposta da Roménia para o seu abandono a prazo do carvão e a descarbonização.
É de notar que a opção nuclear romena se iniciou ainda no tempo de Ceausescu e não foi alterada pelo regime democrático entretanto instaurado. No entanto, e não sendo a Roménia um alinhado incondicional da URSS, a opção tecnológica acabou por ser feita, ainda no regime comunista, por reactores pouco usuais: canadianos, de água pesada (CANDU), que não precisam de urânio enriquecido (usam urânio natural).
Prosseguindo para norte chegamos à Eslováquia, que tem 55% do nosso tamanho e população e aproximadamente o mesmo consumo per capita de energia que nós. No domínio do seu abastecimento energético, porém, a História eslovaca é semelhante à búlgara. Não tendo presentemente dos preços mais baixos da Europa (mas ainda apenas 5/6 dos nossos), a Eslováquia tinha em 2006 55% da sua electricidade de origem nuclear, mas a União Europeia exigiu-lhe, como condição de ingresso, o encerramento de 2 dos seus 4 reactores, o que se verificou em 2006 e 2008 apesar dos enormes investimentos feitos para a sua modernização e da sua ratificação tanto pela IAEA como pelos próprios técnicos europeus (a UE tinha exigido esse encerramento para 2000 mas a Eslováquia conseguiu adiar isso até às datas mencionadas).
Os outros 2 reactores foram também melhorados em aspectos críticos de segurança e foram aceites: resistência sísmica, sistema de arrefecimento de emergência e sistema de controlo, mas a percentagem de energia de origem nuclear, que era a base da produção eslovaca, desceu para 30%, e a Eslováquia tornou-se importadora de electricidade, passando por uma grande penúria energética. Presentemente o país tem em construção dois novos reactores, que deverão entrar em funcionamento em 2012 e 2013. Grande parte da tecnologia é da SKODA, que tem uma longa tradição de participação na indústria nuclear do país e da vizinha República checa.
As outras fontes de produção de electricidade são o carvão, o gás natural, e a hidroelectricidade.
Finalmente, terminando esta 1ª parte do nosso tour europeu, chegamos à República Checa, cujo preço da electricidade é de cerca de 80% do nosso, tem a mesma população que nós mas consome per capita 130% do que nós consumimos e exporta 18% da sua produção (nomeadamente para a Eslováquia). Grande produtor de carvão, 62% da electricidade checa é produzida a partir desse poluente combustível, 30% é de origem nuclear, e o resto a partir de gás russo e alguma hidroelectricidade.
Tal como os seus parceiros regionais, os checos sofrem uma grande pressão para reduzirem o uso do carvão por parte dos ambientalistas europeus. E, tal como os seus vizinhos, preocupados em manter os baixos preços da energia a que estão habituados, a sua estratégia para isso é o reforço do nuclear: dois grandes e modernos reactores de 1200 MW estão de construção prevista para ser iniciada em 2013 e entrada em serviço em 2020. Esta estratégia foi ratificada por uma sondagem oficial que mostrou ter o apoio de 77% dos checos, incluindo 56% dos eleitores que votam no partido verde.
Esta ignorância é o fruto do tabu que o Governo, o lobby eólico e a esquerda "radical" ecotópica (ecologista utópica) criaram, assente na ignorância científica e na tradicional aversão à tecnologia industrial de um povo saído quase directamente do mundo rural para o deslumbramento dos centros comerciais...
Lembrei-me, por isso, de fazer um pequeno tour por esta Europa a que nos oferecemos no rescaldo do abandono das seculares posições ultramarinas, de modo a mostrar a realidade do que respeita às políticas energéticas dos nossos vizinhos e parceiros.
No conjunto, a Europa dos 27 produz 28% da sua electricidade a partir de centrais nucleares, 27% a partir do carvão, 23% a partir de gás natural, e 3% a partir de petróleo. A energia renovável divide-se em 10.5% de hídricas, 4% de eólicas e 3.5% de biomassa. Sim, por mais que isso espante, o nuclear é a principal origem da electricidade da União Europeia e é também a sua principal fonte não emissora de CO2...!
A Espanha, cujo consumo anual per capita é de 5,67 Mwh e que no total consome 6 vezes o que nós consumimos, tem 8 reactores nucleares, com apenas 7.5% da potência total instalada mas que geram 20% da sua electricidade. Foram construídos entre 1964 e 1986, mas depois de Chernobyl (1986) a Espanha desistiu de outras três centrais que estavam planeadas, embora tenha vindo a aumentar a capacidade das existentes.
A restante termo-electricidade é produzida a partir de carvão (10%, parte dele espanhol) e gás natural (30%, importado da Argélia). As renováveis hidroeléctricas e eólicas geram respectivamente 15% e 17%, e há ainda uma produção exorbitantemente cara de 3% de energia solar, com 1.6% de toda a intermitente electricidade eólica e solar perdida em dispendiosa bodmbagem. O resto vem de biomassa, lixos, etc. Os preços da electricidade espanhola são pouco superiores aos nossos (e é no IVA que o são) e têm ajudado a desenvolver uma indústria de aerogeradores de tecnologia genuinamente espanhola que exporta bem (GAMESA), mas o défice tarifário de nuestros hermanos vai em 16,5 biliões (milhares de milhões) de €...
Continuando o tour, a França, cujo consumo per capita é de 6,8 Mwh, é o grande produtor de electricidade da Europa: exporta quase 1/4 da sua produção, de que 75% é de origem nuclear (incluindo indirectamente para Portugal, que importa de Espanha praticamente a mesma quantidade que esta importa de França). Tem 58 reactores de concepção e fabrico nacionais, sendo aliás o único país europeu com uma sólida indústria fabricante de reactores, na AREVA. Esta aposta na energia nuclear seguiu-se ao choque petrolífero de 1973 e consolidou-se nas décadas de 80 e 90, mas a França também gera electricidade a partir do carvão e gás natural (9% destas fontes), hídricas (12.5%) e de eólicas, biogás e biomassa (2.7%). A electricidade em França é cerca de 40% mais barata que por cá e a EDF acaba de pôr no mercado livre boa parte dela a partir de Julho, a 4,0 ç/kwh...
A seguir neste tour temos a Itália, que também consome 10% da sua electricidade de origem nuclear, mas... francesa! Presentemente, com um consumo anual per capita de 5,5 Mwh, a Itália importa 1/7 da electricidade que consome, de França e da Suíça, e daí a componente nuclear no seu consumo (metade da electricidade importada vem da Suíça, mas esta por sua vez importa-a de França e da Alemanha). Da que produz, 54% é gerada a gás natural, 15% a partir do carvão, 9% de petróleo, 14% de hídricas e 3% de eólicas. O preço da electricidade em Itália é praticamente o dobro do francês, e isto resulta essencialmente do seu mix, muito dependente do gás e do petróleo e de importações (e altamente poluidor). E porque é isto assim em Itália?
Porque um referendo em 1987 decidiu, no rescaldo de Chernobyl (1986), encerrar as 4 centrais nucleares de que a Itália dispunha! E, no entanto, a Itália tinha sido pioneira no uso da energia nuclear, tendo a sua primeira central (de concepção inglesa) a funcionar no início dos anos 60 e tido sempre uma activa participação na I&D internacional na matéria!...
Com tanto consumo de gás natural, totalmente importado de países de estabilidade duvidosa (especialmente Argélia e Rússia), em 2009 a Itália decidiu regressar ao nuclear, planeando vir a ter 25% da sua produção energética a partir dessa fonte até 2030, com 4 centrais já previstas a serem construídas com a colaboração da EDF. Porém, os opositores políticos do actual Governo, que incluem os herdeiros de uma extrema-esquerda radical, conseguiram que a questão vá de novo a referendo, o que estava previsto para Junho mas, com os acontecimentos de Fukushima e uma sondagem a indicar 70% de oposição à energia nuclear, o Governo decidiu adiar qualquer nova decisão na matéria...
Prosseguindo a viagem, a Áustria, com uma população um pouco menor que a nossa (8,3 milhões), uma área semelhante e um consumo per capita de 160% o nosso, produz a grande maioria da sua electricidade a partir de hídricas alpinas (mais de 50%), mas também da biomassa, queima de lixo e eólicas, totalizando a produção renovável 65% do seu mix. A produção hidroeléctrica austríaca é ímpar na Europa, tendo sempre aquele país explorado muito bem as excelentes condições naturais dos Alpes para isso! No entanto, os preços da electricidade na Áustria são superiores à média europeia...
A Hungria, antiga parceira da Áustria no Império dos Habsburgos e com a mesma população que nós, não tem Alpes, e por isso a sua produção de electricidade é quase toda de origem térmica: 37% nuclear, 38% a gás natural, 17% a carvão, e o resto essencialmente biomassa (4.5%). A parcela nuclear é produzida por 4 reactores pequenos (470 MW cada), de origem russa (anos 80). A Hungria que, juntamente com os seus vizinhos, tem uma dependência do gás natural russo de que não gosta, tem porém uma electricidade muito barata, mesmo ligeiramente mais que a francesa, mas ainda assim o seu consumo per capita é apenas 80% do nosso (e metade do do seu vizinho austríaco) e tem que importar 10% da electricidade que consome da vizinha Eslováquia. Em 2009 o Parlamento húngaro aprovou (por uma maioria de 95%) um ambicioso programa para resolver esta dependência equipando-se até 2030 de 6000 MW de centrais... nucleares. Mas agora das grandes e modernas!...
Vale a pena notar que o poder político magiar tem um forte pendor nacionalista, o que talvez explique a falta de coragem de Bruxelas para contrariar esta decisão húngara...
Da Hungria descemos à Eslovénia, um paísito com 2 milhões de habitantes mas com um consumo per capita de 6,0 MWh, bem superior ao nosso. 40% da electricidade que consome é nuclear, de um único reactor de concepção americana partilhado a meias com a vizinha Croácia. O resto da electricidade é gerada sobretudo a partir do carvão e gás natural (30%), hídricas e geotermia (24%), mas a "EDP eslovena" propôs ao Governo a construção de um 2º reactor nuclear, desta vez sem partilha com a Croácia, e que aguarda decisão do Parlamento. Esta decisão, inicialmente apontada para o corrente ano de 2011, foi agora adiada, com Fukushima e um manifesto desagrado de Bruxelas por esta opção eslovena. A alternativa mais encarada para as necessidades de curto prazo é um reforço da queima de carvão, o que leva a questionar se com isso o país cumprirá a meta de redução das emissões de CO2 em 20% para 2020. Mas, quanto a isso, o Governo esloveno assobia para o ar, pois é evidente que a sua prioridade é manter os preços da electricidade entre os mais baixos da Europa, apenas ligeiramente superiores aos franceses, e para isso não tem saída para o dilema entre o carvão e o nuclear.
A sul temos depois a Grécia, o nosso companheiro de ranking habitual desde há 40 anos e com um consumo per capita 13% superior ao nosso e 11 milhões de habitantes. Porém, ao contrário de nós mas em harmonia com os seus vizinhos, a Grécia mantém os preços da sua electricidade entre os mais baixos da Europa (apenas 60% da média europeia), graças sobretudo a ter 60% da sua geração assente em carvão nacional. Tem também, no entanto, uns 8% de produção a petróleo, mas por causa das suas muitas ilhas (as ilhas baseiam sempre a sua geração eléctrica em Grupos Diesel, na Grécia como em Portugal). No continente, ao carvão a Grécia adiciona uns 20% de gás natural, percentagem em crescimento, e também já uma percentagem significativa de renováveis, hídricas (4%) e eólicas (5%).
A Grécia vê-se em apuros para manter o poluente carvão como base da sua produção energética, considerando a "multa" de cerca de 20€/tonelada de CO2 que tem de pagar por causa dele e as exigências de Bruxelas para que reduza essas emissões mas, por outro lado, e dado que as reservas de linhito que tem dão para mais 30 anos e que a sua extracção é um forte criador de emprego, a Grécia não tem manifestado pressa em mandar para o desemprego os seus mineiros para em troca passar a importar areogeradores estrangeiros.
Em 2008 o Governo da altura mencionou publicamente a energia nuclear como solução para o dilema economia vs. ambiente, notando que a energia nuclear era "verde", mas o comissário europeu do Ambiente repreendeu-o de imediato contrariando que "a energia nuclear não pertence ao grupo das energias renováveis", logo secundado por um coro de protestos anti-nuclearistas dos partidos da oposição gregos e pelo Greenpeace.
Apesar da Grécia se ter calado desde então e tentado ser uma "boa aluna" desta ideologia que governa Bruxelas, e dos seus papagaios gregos terem entretanto ascendido à governação no país, a Grécia não parece ter ganho com isso qualquer condescendência europeia quando a bancarrota lhe bateu à porta, como sabemos. Vai até ter que "reestruturar a dívida" (ou seja, declarar falência), parece...
Da Grécia passamos à Bulgária, que tem um consumo per capita muito semelhante ao nosso e 7,5 milhões de habitantes, mas que até 2006 exportava 1/6 da electricidade que produzia para os seus vizinhos, incluindo a Grécia, porque a tinha barata e de sobra, graças... a 6 reactores nucleares de fabrico russo que garantiam 42% da sua produção. O resto era gerado a partir do carvão (41%), hídricas (10%) e gás natural. A Bulgária ainda tem a electricidade mais barata da Europa, a cerca de 40% do preço da nossa.
Quando iniciou as negociações para a adesão à União Europeia, Bruxelas questionou a segurança das centrais nucleares búlgaras, de concepção similar à de Chernobyl, e apesar dos esforços e investimentos feitos para melhorar essa segurança, dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica e da própria União Europeia terem considerado que com isso 4 dos 6 reactores tinham agora a segurança requerida, apesar das sondagens mostrarem um apoio de 75% da população à continuação dos reactores, a União Europeia exigiu o fecho de 4 deles como condição de ingresso da Bulgária na União. E, assim, a Bulgária encerrou 4 dos seus 6 reactores nucleares em Dexembro de 2006 para ingressar na União Europeia a 1 de Janeiro de 2007. Mesmo assim, os 2 reactores nucleares sobreviventes ainda geram 35% da electricidade búlgara...
Entretanto, e logo que fechou os seus velhos reactores, a Bulgária começou a projectar a construção de 2 novos (de 1000 MW cada), vindo a criar-se uma parceria entre russos, a AREVA francesa e empresas búlgaras, e que obteve a aprovação técnica da União Europeia. A preparação da construção iniciou-se em 2008 mas, em Fevereiro passado (antes de Fukushima), a empresa russa ROSATOM abandonou o projecto: havia muita coisa obscura nos termos do contrato, desde um preço de construção prometido irrealistamente baixo até à inexistência de um compromisso dos russos sobre qual viria a ser de facto o preço final, e o Governo búlgaro começou a hesitar, algo a que se sujeita um país sem instituições reguladoras nem técnicas apropriadas como a Bulgária, que no passado cedera a sua soberania nestes aspectos à URSS. A Finlândia ofereceu-se para dar a devida assessoria técnica, em troca de 1% do valor do projecto, mas a Bulgária não consegue financiamento para o mesmo.
Penso termos aqui um exemplo do que se passaria por cá se avançássemos para a compra de uma nuclear sem estruturas nenhumas preparadas para isso, como tenho vindo a reclamar...
Passando à Roménia, cujos preços da electricidade são cerca de 55% dos nossos e que tem um consumo nacional quase igual ao nosso mas 21 milhões de habitantes, a base da sua geração é também o poluente carvão (40%), a que junta o gás natural (19%), mas que tem também 29% de produção hidroeléctrica e, desde 1996... nuclear. Com um primeiro reactor entrado em funcionamento em 1996 e um segundo recentemente (2007), a Roménia produz já 15% da sua electricidade a partir desta origem, e tornou-se exportadora. Além disso, o projecto de novos reactores prossegue e, depois de ter resolvido sérias dificuldades de financiamento com uma parceria multi-nacional, o 3º reactor deverá entrar em funcionamento em 2016 e um 4º por volta de 2020. Os reactores são também usados para aquecimento distrital e a energia nuclear é a aposta da Roménia para o seu abandono a prazo do carvão e a descarbonização.
É de notar que a opção nuclear romena se iniciou ainda no tempo de Ceausescu e não foi alterada pelo regime democrático entretanto instaurado. No entanto, e não sendo a Roménia um alinhado incondicional da URSS, a opção tecnológica acabou por ser feita, ainda no regime comunista, por reactores pouco usuais: canadianos, de água pesada (CANDU), que não precisam de urânio enriquecido (usam urânio natural).
Prosseguindo para norte chegamos à Eslováquia, que tem 55% do nosso tamanho e população e aproximadamente o mesmo consumo per capita de energia que nós. No domínio do seu abastecimento energético, porém, a História eslovaca é semelhante à búlgara. Não tendo presentemente dos preços mais baixos da Europa (mas ainda apenas 5/6 dos nossos), a Eslováquia tinha em 2006 55% da sua electricidade de origem nuclear, mas a União Europeia exigiu-lhe, como condição de ingresso, o encerramento de 2 dos seus 4 reactores, o que se verificou em 2006 e 2008 apesar dos enormes investimentos feitos para a sua modernização e da sua ratificação tanto pela IAEA como pelos próprios técnicos europeus (a UE tinha exigido esse encerramento para 2000 mas a Eslováquia conseguiu adiar isso até às datas mencionadas).
Os outros 2 reactores foram também melhorados em aspectos críticos de segurança e foram aceites: resistência sísmica, sistema de arrefecimento de emergência e sistema de controlo, mas a percentagem de energia de origem nuclear, que era a base da produção eslovaca, desceu para 30%, e a Eslováquia tornou-se importadora de electricidade, passando por uma grande penúria energética. Presentemente o país tem em construção dois novos reactores, que deverão entrar em funcionamento em 2012 e 2013. Grande parte da tecnologia é da SKODA, que tem uma longa tradição de participação na indústria nuclear do país e da vizinha República checa.
As outras fontes de produção de electricidade são o carvão, o gás natural, e a hidroelectricidade.
Finalmente, terminando esta 1ª parte do nosso tour europeu, chegamos à República Checa, cujo preço da electricidade é de cerca de 80% do nosso, tem a mesma população que nós mas consome per capita 130% do que nós consumimos e exporta 18% da sua produção (nomeadamente para a Eslováquia). Grande produtor de carvão, 62% da electricidade checa é produzida a partir desse poluente combustível, 30% é de origem nuclear, e o resto a partir de gás russo e alguma hidroelectricidade.
Tal como os seus parceiros regionais, os checos sofrem uma grande pressão para reduzirem o uso do carvão por parte dos ambientalistas europeus. E, tal como os seus vizinhos, preocupados em manter os baixos preços da energia a que estão habituados, a sua estratégia para isso é o reforço do nuclear: dois grandes e modernos reactores de 1200 MW estão de construção prevista para ser iniciada em 2013 e entrada em serviço em 2020. Esta estratégia foi ratificada por uma sondagem oficial que mostrou ter o apoio de 77% dos checos, incluindo 56% dos eleitores que votam no partido verde.
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sexta-feira, abril 22, 2011
Energia, essa desconhecida
Publicado no "Expresso" de 16-04-2011:
O Expresso de 26/Fevereiro/2011 publicou dois artigos de opinião fazendo o panegírico da política energética do actual governo: “O Mundo da energia tem os olhos postos em nós” do Director Geral da ADENE e “Energia, sustentabilidade e populismo”, do Presidente Executivo da ENEOP. Pode-se entender a propaganda, mas convenhamos que qualquer pessoa que tenha lido nos últimos meses a imprensa estrangeira sabe que infelizmente se “o Mundo tem os olhos postos em nós“ é por causa dos graves problemas de endividamento que nos afectam…
Os signatários pretendem assim contribuir para o esclarecimento da opinião pública sobre a situação energética portuguesa. A Energia terá de ser uma ferramenta ao serviço da competitividade da Economia de Portugal, mas é exactamente o inverso que tem acontecido nos últimos 15 anos.
Desde logo, para as empresas os preços de electricidade sem IVA, que é o que conta para a sua competitividade económica, são cerca de 15% superiores aos da média europeia e 40% superiores aos franceses. Para as famílias também são superiores à média europeia e 40% superiores aos franceses se se descontar a subsidiação relativa de um IVA muito inferior ao cobrado em média na Europa. E isto sem contar com o “défice tarifário” que pesa sobre os consumidores portugueses!
Depois, o valor médio da energia eólica que consta do documento oficial da ERSE para 2011 é de 90,54 €/MWh, muito acima do valor de referência do mercado que é de 52 €/MWh. E isto para não falar nos Decretos Leis que garantem valores de cerca de 350 €/MWh à electricidade fotovoltaica, e de 587 €/MWh à de microgeração.
Mas, mais grave, é o facto destas formas de energia serem intermitentes e incontroláveis, o que acresce um pesado sobrecusto sistémico a estas tarifas e que a “previsão e a gestão” não resolvem.
A intermitência significa que a produção dos aerogeradores varia drasticamente quando o vento muda ligeiramente, e a dos painéis fotovoltaicos quando o sol se põe ou, até, alguma nuvem o encobre ligeiramente!
Ora quando se promoveu a construção dum parque eólico que atinge hoje uma potência instalada de 4000 MW mas apenas 1000 MW em produção média, o governo teve que garantir por Decreto Lei que toda a energia eólica produzida tem de ser paga aos seus produtores, seja ou não consumida.
Porém, devido à referida intermitência, esta garantia exige que relativamente a toda a potência instalada haja investimentos adicionais vultuosos:
- por um lado é necessária uma “potência de substituição” em centrais térmicas porque, não sendo possível saber se na ponta de consumo anual vai, ou não, haver vento e água nas barragens que cheguem, o sistema electroprodutor tem que ser dotado com reservas;
- por outro lado é preciso aproveitar a electricidade eólica produzida nas horas de vazio em que não há consumo que a “encaixe”, fazendo bombagem para centrais hidroeléctricas de albufeira, processo em que ¼ da energia é dissipada em perdas e que nem sequer sempre funciona, pois quando a chuva compete com o vento pela capacidade das albufeiras estas têm que simplesmente abrir as comportas, ou a electricidade ser exportada a preço zero.
Ora estes sobrecustos acrescem às tarifas pagas aos produtores de energia eólica, e são incluídos nos CIEG (Custos de Interesse Económico Geral). E é o conjunto destes sobrecustos que não para de subir, como assinalou o Conselho Tarifário da ERSE no seu último documento oficial.
Por outro lado, os números apregoados relativos a novos empregos são completamente fantasiosos. Em toda a Europa, e segundo a própria associação europeia de energia eólica, terão sido criados 10,5 mil empregos anuais, mas 75% deles só nos 3 países que criaram e desenvolvem as respectivas turbinas, o que não inclui Portugal. Quanto à redução de importações de combustíveis fósseis em 2010, devida essencialmente a um ano chuvoso de que as nossas hidroeléctricas muito beneficiaram, terá sido de 174 milhões de euros mas em carvão e gás natural, sem que um barril de petróleo tenha sido poupado com isso!
A aposta da política económica portuguesa em bens transaccionáveis não é compatível com esta politica irrealista de fomento de sobrecustos da respectiva base energética.
E é isso que tem que ser corrigido, começando por uma análise global e fundamentada de todos os cenários tecnológicos possíveis de utilização de todas as fontes de energia primárias disponíveis.
José Luís Pinto de Sá e Clemente Pedro Nunes, Professores do Instituto Superior Técnico
quarta-feira, abril 20, 2011
Não é só cá! (2)
Não é só cá que se verifica uma despudorada campanha de mentira e intoxicação sobre o que se passa em Fukushima! Este excelente post num blog australiano ambientalista mostra como a notícia que por cá passou "plantada" à LUSA pelo sr. Volodomyr Bebechko (de que hei-de voltar a falar a propósito de epidemiologia) passou noutros continentes muito parecida mas com uma origem completamente diferente!
Não admira que com esta campanha maciça, o medo tenha renascido nas populações - mas é isso mesmo que essa campanha pretende: o terror!
E, no entanto, como ontem mencionei, os robots enviados às salas dos reactores mediram 58 mSv/h, 1% do que os trabalhadores de Chernobyl tiveram de heroicamente enfrentar, e a radioactividade acumulada à volta da central é insignificante! Logo que a situação na central esteja controlada (Julho, prevê a TEPCO), as populações poderão voltar às suas casas rodeadas de montanhas de escombros... devidos ao tsunami!
Alguns eco-terroristas persistem em que Fukushima poderá ser uma "Chernobyl em fogo lento", querendo com isso sugerir que a radioactividade emitida é apreciável e que o continua a ser. Mas não é verdade, como mostram os gráficos seguintes da radioactividade nos arredores da central.
O primeiro mostra como as emissões se concentraram nos momentos em que ocorreram as explosões de hidrogénio e o início de incêndio da piscina do reactor nº 4.
A figura seguinte mostra como tem evoluído a radioactividade em diversas pontos próximos da Central: em redução rápida, desde os tais "picos" de Março!
Note-se que a radioactividade ambiente natural é da ordem de 0,3 microSv/h, mas há locais no Mundo em que chega a ser de 5 microSv/h. O limite abaixo do qual não há prova de qualquer efeito patológico é de 12 microSv/h durante um ano seguido (100 mSv/ano), e o limite prudentemente permitido a trabalhadores é metade desse (portanto, 6 microSv/h). Como se vê, até mesmo em Iitate, a povoação para onde os ventos levaram uma maior concentração, a radioactividade já há semanas que caiu abaixo dos referidos 6 microSv/h!...
Logo que tenha tempo hei-de voltar aqui para analisar o que se sabe e o que supõe sobre radioactividade e seus efeitos na saúde. É um dever que assumo: a luta contra a mistificação, a ignorância e o terrorismo obscurantista. Porque a Ciência não é neutra!
Não admira que com esta campanha maciça, o medo tenha renascido nas populações - mas é isso mesmo que essa campanha pretende: o terror!
E, no entanto, como ontem mencionei, os robots enviados às salas dos reactores mediram 58 mSv/h, 1% do que os trabalhadores de Chernobyl tiveram de heroicamente enfrentar, e a radioactividade acumulada à volta da central é insignificante! Logo que a situação na central esteja controlada (Julho, prevê a TEPCO), as populações poderão voltar às suas casas rodeadas de montanhas de escombros... devidos ao tsunami!
Alguns eco-terroristas persistem em que Fukushima poderá ser uma "Chernobyl em fogo lento", querendo com isso sugerir que a radioactividade emitida é apreciável e que o continua a ser. Mas não é verdade, como mostram os gráficos seguintes da radioactividade nos arredores da central.
O primeiro mostra como as emissões se concentraram nos momentos em que ocorreram as explosões de hidrogénio e o início de incêndio da piscina do reactor nº 4.
A figura seguinte mostra como tem evoluído a radioactividade em diversas pontos próximos da Central: em redução rápida, desde os tais "picos" de Março!
Note-se que a radioactividade ambiente natural é da ordem de 0,3 microSv/h, mas há locais no Mundo em que chega a ser de 5 microSv/h. O limite abaixo do qual não há prova de qualquer efeito patológico é de 12 microSv/h durante um ano seguido (100 mSv/ano), e o limite prudentemente permitido a trabalhadores é metade desse (portanto, 6 microSv/h). Como se vê, até mesmo em Iitate, a povoação para onde os ventos levaram uma maior concentração, a radioactividade já há semanas que caiu abaixo dos referidos 6 microSv/h!...
Logo que tenha tempo hei-de voltar aqui para analisar o que se sabe e o que supõe sobre radioactividade e seus efeitos na saúde. É um dever que assumo: a luta contra a mistificação, a ignorância e o terrorismo obscurantista. Porque a Ciência não é neutra!
segunda-feira, abril 18, 2011
Japão repete erros de Chernobyl?!!!
Há notícias que chegam aos media de que não sei a origem, mas que são espantosas pelas sua falsidade e pela pressa com que são publicadas!
Hoje, são vários os jornais que têm estado a publicar alegadas afirmações de um suposto cientista ucraniano, um tal Vladimir Bebechko, que "...apontou como o maior erro dos japoneses o excessivo heroísmo atribuído aos trabalhos de liquidação das consequências da avaria na Central Nuclear de Fukushima, sublinhando que "neles é utilizado um número maior de salvadores do que o necessário", e "Daí que, não obstante o alto nível de civilização do país e o profissionalismo na abordagem da liquidação da avaria, a envergadura das consequências será significativamente maior do que poderia ser", rematando que "é impossível passar sem atos de heroísmo em operações deste género, mas "os japoneses sujeitam-se teimosamente a um risco injustificado". "As consequências negativas do heroísmo injustificado aquando da neutralização das consequências da avaria na Central Nuclear de Tchernobyl deviam ter dado uma lição a toda a Humanidade", acrescentou.".
Ora estas afirmações nâo têm pés nem cabeça, como sabem todos os que seguem minimamente as notícias! Os japoneses ainda não entraram sequer nos recintos dos reactores, mais de um mês passado sobre o tsunami, e é precisamente por isso que a TEPCO prevê tantos meses para controlar a situação!!!
Em Chernobyl, com efeito, o governo soviético criou aquilo a que se chamou a "comissão de liquidadores", com homens de todas as Repúblicas e totalizando centenas de milhar, que foram enviados à vez para dar o seu contributo ao enterramento do reactor destruído sob um pesado sarcófago de cimento, onde ainda está hoje. Com o reactor a arder a céu aberto dificilmente haveria na altura melhor solução (executada 10 dias depois do incêndio começar, após a explosão que destruiu a cobertura), e se é certo que exigiu coragem, propriamente heroísmo só foi pedido aos técnicos da central que se sacrificaram logo de imediato tentando minimizar o acidente e aos bombeiros que chegaram pouco depois. Foram 134, de que morreram 28 com radiações agudas. Vários deles foram condecorados a título póstumo.
Nos "liquidadores", que estiveram expostos por pouco tempo (por isso é que foram muitos, para que cada um tivesse muito pouco tempo de exposição), não houve nenhum aumento detectável de cancro, posteriormente!
Mas Fukushima é muito diferente desde o princípio! Não houve ali nenhum rebentamento dos contentores de reactores, que são espessamente blindados, ao contrário do que acontecia em Chernobyl! E por isso não foi necessária a medida desesperada mas inevitável tomada na URSS!
Em Fukushima há umas centenas de trabalhadores a trabalhar mas fora dos edifícios, e... muitos robots!
Na verdade, ontem mesmo um primeiro robot penetrou até junto do reactor nº 1 e outro até ao nº 3, medindo a radioactividade, que está elevada (58 mSv/h - junto do reactor, um trabalhador levaria 4 horas e meia a esgotar o seu plafond de segurança de 250 mSv/ano...), e planeiam fazer o mesmo ao reactor nº 2 amanhã.
A foto anexa é precisamente a primeira tirada do reactor (a amarelo), ontem, por um robot "abre-portas".
Hoje, são vários os jornais que têm estado a publicar alegadas afirmações de um suposto cientista ucraniano, um tal Vladimir Bebechko, que "...apontou como o maior erro dos japoneses o excessivo heroísmo atribuído aos trabalhos de liquidação das consequências da avaria na Central Nuclear de Fukushima, sublinhando que "neles é utilizado um número maior de salvadores do que o necessário", e "Daí que, não obstante o alto nível de civilização do país e o profissionalismo na abordagem da liquidação da avaria, a envergadura das consequências será significativamente maior do que poderia ser", rematando que "é impossível passar sem atos de heroísmo em operações deste género, mas "os japoneses sujeitam-se teimosamente a um risco injustificado". "As consequências negativas do heroísmo injustificado aquando da neutralização das consequências da avaria na Central Nuclear de Tchernobyl deviam ter dado uma lição a toda a Humanidade", acrescentou.".
Ora estas afirmações nâo têm pés nem cabeça, como sabem todos os que seguem minimamente as notícias! Os japoneses ainda não entraram sequer nos recintos dos reactores, mais de um mês passado sobre o tsunami, e é precisamente por isso que a TEPCO prevê tantos meses para controlar a situação!!!
Em Chernobyl, com efeito, o governo soviético criou aquilo a que se chamou a "comissão de liquidadores", com homens de todas as Repúblicas e totalizando centenas de milhar, que foram enviados à vez para dar o seu contributo ao enterramento do reactor destruído sob um pesado sarcófago de cimento, onde ainda está hoje. Com o reactor a arder a céu aberto dificilmente haveria na altura melhor solução (executada 10 dias depois do incêndio começar, após a explosão que destruiu a cobertura), e se é certo que exigiu coragem, propriamente heroísmo só foi pedido aos técnicos da central que se sacrificaram logo de imediato tentando minimizar o acidente e aos bombeiros que chegaram pouco depois. Foram 134, de que morreram 28 com radiações agudas. Vários deles foram condecorados a título póstumo.
Nos "liquidadores", que estiveram expostos por pouco tempo (por isso é que foram muitos, para que cada um tivesse muito pouco tempo de exposição), não houve nenhum aumento detectável de cancro, posteriormente!
Mas Fukushima é muito diferente desde o princípio! Não houve ali nenhum rebentamento dos contentores de reactores, que são espessamente blindados, ao contrário do que acontecia em Chernobyl! E por isso não foi necessária a medida desesperada mas inevitável tomada na URSS!
Em Fukushima há umas centenas de trabalhadores a trabalhar mas fora dos edifícios, e... muitos robots!
Na verdade, ontem mesmo um primeiro robot penetrou até junto do reactor nº 1 e outro até ao nº 3, medindo a radioactividade, que está elevada (58 mSv/h - junto do reactor, um trabalhador levaria 4 horas e meia a esgotar o seu plafond de segurança de 250 mSv/ano...), e planeiam fazer o mesmo ao reactor nº 2 amanhã.
A foto anexa é precisamente a primeira tirada do reactor (a amarelo), ontem, por um robot "abre-portas".
sexta-feira, abril 15, 2011
A energia nuclear pós-Fukushima
Como escrevi em Janeiro de 2010, ao decidir afrontar o tabu ideológico instalado em Portugal quanto à energia nuclear pelos ecotópicos e interesses associados, a energia nuclear não está morta.
Ou não estava, naquela altura, e registava mesmo um renascimento com um crescimento mundial previsto de 130% para os próximos 15 anos; e agora, depois de Fukushima?
Actualizando o que escrevera então:
1/7 da electricidade mundial é produzida a partir de energia nuclear, mas a percentagem é muito maior nos países industrializados. Existem em funcionamento no mundo 440 reactores em 30 países, com uma potência instalada de 337 Gw.
Na Europa dos 27, a energia nuclear produz 25% da electricidade, valor que chega aos 75% em França e 76% na Lituânia.
A Espanha tem 8 reactores nucleares somando 7.5 GW (já teve 10) que produzem 17,5% da sua electricidade, que exporta parcialmente para Portugal. Essa origem nuclear da electricidade que consumimos é verificável na factura da EDP que recebemos.
A percentagem de electricidade de origem nuclear é de 35% na Coreia e no Japão e 20% nos EUA. A China, entretanto, tem "apenas" 13 reactores a funcionar, mas em construção no ano corrente de 2011 tem mais 27 e projectados tem já um total de mais... 160!!!
A Índia tem "apenas" 20 centrais nucleares e mais 5 em construção, mas tem projectados até 2030 mais 58 e, embora comparada com a China pareça ter ambições modestas, está envolvida num ambicioso plano de I&D visando usar Tórium em vez de Urânio como combustível, dado ser rica naquele mineral e pobre neste.
A Coreia, de que já há tempos falei, tem 21 reactores em operação, 5 em construção e mais 6 projectados, e o Japão tem 51 em funcionamento (depois da perda de Fukushima-Daiichi) e 2 em construção, estando planeados "apenas" mais 15...
Entretanto, a Rússia e a Ucrânia têm em conjunto 46 reactores em funcionamento, 9 em construção e... 64 planeados ou propostos!
Com um plano de crescimento também impressionante, em termos relativos, a África do Sul, que tem presentemente apenas 2 reactores a funcionarem, já planeou mais 6!
O Brasil, entretanto, tem 2 reactores em funcionamento, um 3º em construção, e mais 4 projectados até 2025. O Brasil projecta também a construção de um submarino nuclear seu.
Como é patente e apesar de ser cedo, existem já alguns aspectos de segurança críticos identificados no caso de Fukushima, nomeadamente a questão das piscinas de arrefecimento dos resíduos, o haver tantos reactores concentrados numa única central, para além da localização da central (os solos das nucleares japonesas são escolhidos rochosos para reduzirem o impacto dos terramotos, mas os tsunamis...) e da necessidade de previsão de que pode acontecer o pior possível, como um terramoto com tsunami e com destruição geral fora da central.
Sobre Outras coisas:
Entretanto, a reunião tratou também os seguintes importantes pontos que deveriam merecer especial atenção em Portugal e de que eu já mencionava alguns em 2010:
25. "Many Contracting Parties expressed concern regarding the human and financial resources available and their ability to recruit and train sufficient numbers of staff to meet the needs of the regulatory body. This is a challenge that will continue to grow, particularly for those Contracting Parties who foresee an expansion of their nuclear programme, for those with existing ageing Nuclear Power Plants, as well as for those embarking on nuclear programmes. In response to these challenges, some Contracting Parties reported enhanced recruitment policies to attract a new generation of experts and also reported on the implementation of enhanced knowledge management systems."
27. "Contracting Parties constructing new Nuclear Power Plants reported on the challenges of providing regulatory assessment of new designs and oversight of construction and commissioning of Nuclear Power Plants".
30. "Some Contracting Parties have focused on ensuring that Nuclear Power Plant design information and the necessary technical expertise is retained in the country for both domestic and non-domestic suppliers of Nuclear Power Plants. The establishment of a design organization to achieve this aim was identified as a good practice."
31. " Some Contracting Parties are actively keeping in contact with foreign operators and suppliers, with an objective to improve the imported technology and to implement improvements also at the operating Nuclear Power Plants". Como exemplo desta preocupação em aprender tecnologias importadas, vale a pena notar o exemplo búlgaro e a parceria ali assinada ontem mesmo com a AREVA para o treino e formação de pessoal local.
E finalmente, a merecer especial atenção caso um dia se decida finalmente começar a pensar no assunto em Portugal:
40. "Several Contracting Parties are planning to embark on building Nuclear Power Plants for the first time. The challenge identified for these Contracting Parties was to establish the necessary legal, regulatory and other infrastructural elements and personnel numbers and competences in all areas related to siting, constructing, operating, and decommissioning and regulating any proposed Nuclear Power Plants. In particular, the importance of strong early governmental support was emphasized in connection with the establishment of the regulatory body. ...". Tal como eu defendia em 2010!...
Ou não estava, naquela altura, e registava mesmo um renascimento com um crescimento mundial previsto de 130% para os próximos 15 anos; e agora, depois de Fukushima?
Actualizando o que escrevera então:
1/7 da electricidade mundial é produzida a partir de energia nuclear, mas a percentagem é muito maior nos países industrializados. Existem em funcionamento no mundo 440 reactores em 30 países, com uma potência instalada de 337 Gw.
Na Europa dos 27, a energia nuclear produz 25% da electricidade, valor que chega aos 75% em França e 76% na Lituânia.
A Espanha tem 8 reactores nucleares somando 7.5 GW (já teve 10) que produzem 17,5% da sua electricidade, que exporta parcialmente para Portugal. Essa origem nuclear da electricidade que consumimos é verificável na factura da EDP que recebemos.
A percentagem de electricidade de origem nuclear é de 35% na Coreia e no Japão e 20% nos EUA. A China, entretanto, tem "apenas" 13 reactores a funcionar, mas em construção no ano corrente de 2011 tem mais 27 e projectados tem já um total de mais... 160!!!
A Índia tem "apenas" 20 centrais nucleares e mais 5 em construção, mas tem projectados até 2030 mais 58 e, embora comparada com a China pareça ter ambições modestas, está envolvida num ambicioso plano de I&D visando usar Tórium em vez de Urânio como combustível, dado ser rica naquele mineral e pobre neste.
A Coreia, de que já há tempos falei, tem 21 reactores em operação, 5 em construção e mais 6 projectados, e o Japão tem 51 em funcionamento (depois da perda de Fukushima-Daiichi) e 2 em construção, estando planeados "apenas" mais 15...
Entretanto, a Rússia e a Ucrânia têm em conjunto 46 reactores em funcionamento, 9 em construção e... 64 planeados ou propostos!
Com um plano de crescimento também impressionante, em termos relativos, a África do Sul, que tem presentemente apenas 2 reactores a funcionarem, já planeou mais 6!
O Brasil, entretanto, tem 2 reactores em funcionamento, um 3º em construção, e mais 4 projectados até 2025. O Brasil projecta também a construção de um submarino nuclear seu.
A propósito, além destes actuais 440 reactores em centrais eléctricas há mais 220 em submarinos e navios de superfície movidos a energia nuclear, que é também a fonte energética da maioria das sondas espaciais e dos satélites militares...
No total, a somar aos 440 reactores operacionais no mundo (dos quais 165 na Europa excluindo a Rússia), há mais 61 em construção e mais 484 planeados ou propostos, 55% dos quais na Ásia. Mas a própria Turquia tem 4 reactores planeados e mais 4 propostos, e até o Vietnam tem 2 planeados e 12 propostos...
Como é patente, entre em contrução, planeados ou propostos (em estudo), há mais reactores nucleares do que os já existentes! O Mundo assiste, portanto, a um Renascimento da energia nuclear, depois da relativa estagnação que se verificou nos 25 anos que mediaram entre Chernobyl e Fukushima...
No total, a somar aos 440 reactores operacionais no mundo (dos quais 165 na Europa excluindo a Rússia), há mais 61 em construção e mais 484 planeados ou propostos, 55% dos quais na Ásia. Mas a própria Turquia tem 4 reactores planeados e mais 4 propostos, e até o Vietnam tem 2 planeados e 12 propostos...
Como é patente, entre em contrução, planeados ou propostos (em estudo), há mais reactores nucleares do que os já existentes! O Mundo assiste, portanto, a um Renascimento da energia nuclear, depois da relativa estagnação que se verificou nos 25 anos que mediaram entre Chernobyl e Fukushima...
E porquê este renascimento?
Por causa de Kioto e da necessidade de reduzir as emissões de CO2 associadas ao carvão, além de outros malefícios ambientais deste abundante e barato combustível fóssil, como por exemplo o facto do seu uso emitir 100 vezes mais radioactividade que a energia nuclear!!!
Ora, vendo as fontes principais da electricidade no Mundo e em particular nos países asiáticos que mais estão agora a apostar na alternativa nuclear, é patente o peso que neles tem tido o carvão, ao qual o nuclear é a única alterntiva - em quantidade de energia, em preço e em características não-intermitentes e controláveis! Aliás, no gráfico junto é patente que os países em que o consumo de carvão para a produção de electricidade é moderado são precisamente aqueles que o substituíram pela alternativa nuclear!
O nuclear é, de facto, a única energia alternativa actual, e é também por isso que, os mesmos que em 1980 defenderam a opção pelo carvão em Portugal, defendem agora, pós-Kioto, a sua substituição pelo nuclear! A opção nuclear é a única alternativa energética "green" e simultaneamente barata, e se Portugal teve e tem recursos hidroelécticos consideráveis, por ter a sorte da maior parte dos rios ibéricos desaguar aqui, essa sorte não se verifica na maior parte do resto do Mundo, especialmente nos países muito continentais, incluindo a ecotópica Alemanha!
E, por isso, o Renascimento nuclear prosseguirá em todo o Mundo depois de Fukushima-Daiichi, como prontamente o reafirmaram as autoridades americanas, chinesas, francesas, indianas e em geral, com excepção da Alemanha e a sua crescente deriva nacional-ambientalista!
Naturalmente, o Renascimento nuclear prosseguirá mas aprendendo com a vida, como em todas as tecnologias! Fukushima é um caso sério mas datado, de consequências económicas graves mas nenhuma morte ou injúria física, e de que há muito a aprender. E, por isso, a 5ª reunião internacional da Convenção para a Segurança Nuclear, terminada ontem em Viena e em que estiveram presentes 61 países (até Portugal!) e observadores da OCDE e da EURATOM, sob o patrocínio da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), apresentou ao público o seu relatório, já considerando Fukushima, e de que realço os seguintes pontos:
Sobre Fukushima:
10. Tirar as lições devidas, voltar a analisar o caso em Junho próximo para "provide an opportunity to make an initial assessment of the Fukushima accident, consider lessons that need to be learned, help launch a process to strengthen global nuclear safety and consider ways to further strengthen the response to nuclear accidents and emergencies", e realizar um encontro específico em 2012 "to enhance safety through reviewing and sharing lessons learned and actions taken by Contracting Parties in response to events of Fukushima and to reviewing the effectiveness".
12. Que se inicie a análise, em cada país, de::
1. Nuclear power plant design against external events;
2. Offsite response to emergency situations (e.g. station blackout);
3. Emergency management and preparedness following worst case accident scenarios;
4. Safety consideration for operation of multi-units at the same Nuclear Power Plant site;
5. Cooling of spent fuel storage in severe accident scenarios;
6. Training of Nuclear Power Plant operators for severe accident scenarios;
7. Radiological monitoring following Nuclear Power Plant accident involving radiological release;
8. Public protection emergency actions; and
9. Communications in emergency situations.
Sobre Outras coisas:
Entretanto, a reunião tratou também os seguintes importantes pontos que deveriam merecer especial atenção em Portugal e de que eu já mencionava alguns em 2010:
25. "Many Contracting Parties expressed concern regarding the human and financial resources available and their ability to recruit and train sufficient numbers of staff to meet the needs of the regulatory body. This is a challenge that will continue to grow, particularly for those Contracting Parties who foresee an expansion of their nuclear programme, for those with existing ageing Nuclear Power Plants, as well as for those embarking on nuclear programmes. In response to these challenges, some Contracting Parties reported enhanced recruitment policies to attract a new generation of experts and also reported on the implementation of enhanced knowledge management systems."
27. "Contracting Parties constructing new Nuclear Power Plants reported on the challenges of providing regulatory assessment of new designs and oversight of construction and commissioning of Nuclear Power Plants".
30. "Some Contracting Parties have focused on ensuring that Nuclear Power Plant design information and the necessary technical expertise is retained in the country for both domestic and non-domestic suppliers of Nuclear Power Plants. The establishment of a design organization to achieve this aim was identified as a good practice."
31. " Some Contracting Parties are actively keeping in contact with foreign operators and suppliers, with an objective to improve the imported technology and to implement improvements also at the operating Nuclear Power Plants". Como exemplo desta preocupação em aprender tecnologias importadas, vale a pena notar o exemplo búlgaro e a parceria ali assinada ontem mesmo com a AREVA para o treino e formação de pessoal local.
E finalmente, a merecer especial atenção caso um dia se decida finalmente começar a pensar no assunto em Portugal:
40. "Several Contracting Parties are planning to embark on building Nuclear Power Plants for the first time. The challenge identified for these Contracting Parties was to establish the necessary legal, regulatory and other infrastructural elements and personnel numbers and competences in all areas related to siting, constructing, operating, and decommissioning and regulating any proposed Nuclear Power Plants. In particular, the importance of strong early governmental support was emphasized in connection with the establishment of the regulatory body. ...". Tal como eu defendia em 2010!...
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