Depois de ontem ter aqui comentado a indignação do ingénuo (ou ignorante) público que esperava que os novos automóveis eléctricos viessem baratos e está a descobrir que custam o dobro dos seus concorrentes a gasolina (antes de impostos), vale a pena dar notícia de uma reunião nos últimos dias em Detroit de responsáveis da indústria automóvel com representantes do Governo americano.
Segundo a Scientific American, que publica a notícia, em Detroit, a "capital do mundo das baterias" (os americanos gostam destes exageros, especialmente tendo em conta que quem domina a tecnologia das novas baterias é o Japão), já foram investidos uns 6 biliões de dólares na indústria de baterias, somando os investimentos privados às ajudas do Estado. Mas, segundo a notícia, a indústria quer mais subsídios do Estado e avisa que se não houver mercado para os novos automóveis os investidores privados se "irão embora". E como ao preço e autonomia a que vêm não se vislumbra procura pelo mercado civil, que pede a indústria? Que o próprio Estado compre os carros - para os correios, o exército, etc...
Entretanto, o Nissan Leaf só deverá aparecer por cá já 2011 irá bem adiantado. Ou muito me engano ou ainda havemos de ver os "pontos de abastecimento" da EDP ganharem ferrugem antes de terem sido utilizados...
Entretanto, logo que chegam dias de calor como os actuais, imediatamente os ecotópicos de serviço nos media começam a gritar que a culpa é do efeito de estufa, que aí está a prova do aquecimento global, que os glaciares e o Ártico estão a derreter, etc. Claro que os gelos derretem todos os Verões, especialmente em dias de calor como este. E depois voltam a congelar quando voltar o frio, no Inverno, como acontece todos os anos. Mas disso já os ecotópicos não falam...
Ora especialmente nestas alturas, jogando com a memória curta das pessoas e acicatando alarmes a que as gentes, incomodadas com a vaga de calor, estão mais susceptíveis, aparecem as notícias a dizer que estamos no "ano mais quente do século", que "ontem foi o dia mais quente desde há não sei quantas décadas" e outros alarmes que, como diz Medina Carreira, fariam Goebells sentir-se um menino de coro quanto a técnicas de manipulação de massas.
Uma das atoardas que têm sido lançadas é que o Inverno passado, que toda a gente sentiu no Hemisfério norte como tendo sido excepcionalmente rigoroso, foi dos mais quentes de sempre. Tem, por isso, razão de ser mencionar aqui a discussão sobre o assunto surgida agora na Scientific American, específicamente sobre o facto do Inverno passado ter sido aquele em que mais nevou desde que há registos nos Estados norte-americanos de Leste. Não, não foi um arrefecimento global! Foi uma combinação normal de efeitos regionais e periódicos do clima - em particular uma combinação das oscilações do El Niño e da variação períódica do clima nórdico. Uma interessante investigação sobre a evolução da temperatura em Lisboa pode ser lida aqui. Em Lisboa, como em todas as grandes cidades, a construção reduz a velocidade do vento o que, por sua vez, tende a conservar o calor gerado pelas próprias actividades da cidade. Por isso a temperatura média na cidade é mais de 2ºC superior à dos seus arredores, como é normal.
Nota: não nego que esteja em curso um aquecimento global, e até que a actividade humana tenha nisso alguma responsabilidade. Mas não exageremos!...
Nos EUA, a General Motors (ainda há 20 anos o maior construtor mundial de automóveis, lugar hoje ocupado pela Toyota), acaba de desvendar as características do seu Chevrolet Volt, um dos vários automóveis eléctricos anunciados para breve por alguns fabricantes preocupados em estar nas boas graças da política correcta.
O Volt vem ao preço de 41ooo USD (cerca de 30 mil €), antes de impostos e, como nota o New York Times, tem menos espaço interior que o seu equivalente não-eléctrico, o Chevrolet Cruze, que custa... 12,7 mil €!
Mas o que mais escandaliza o New York Times é que a General Motors recebeu biliões de USD de subsídios governamentais para o desenvolvimento deste carro, e que mesmo assim o vende a este preço, em vez de fazer como a Toyota, que internalizou os custos de promoção do seu Prius, o primeiro automóvel híbrido do mundo, lançado já já 13 anos, e que começou por ser vendido a 17 mil USD apesar do seu custo de produção para a Toyota ser de 32 mil USD!...
A Toyota já vai na 3ª versão do Prius, cada vez mais perfeito e já a ser vendido sem prejuízo, mas a General Motors, como explica o New York Times, não tem efectivamente intenção de fazer negócio com o seu automóvel eléctrico: limitou-se a fazer o frete ao Governo americano e a sacar os subsídios (o que não a impediu de entretanto falir), que é o que escandaliza o jornal, dada a inviabilidade do carro a este preço.
Mas, na realidade, o Volt da GM não é puramente eléctrico, mas sim híbrido como o Prius. Se fosse puramente eléctrico, como o Nissan Leaf de que já dei aqui notícia, custaria menos 6 mil € (ainda assim o dobro do seu equivalente a gasolina pura, o Cruze), mas só teria autonomia para 65 km, e enquanto a bateria fosse nova...!
Veremos como se desenrola este "filme" com os outros construtores da vanguarda eléctrica.
Entretanto e apesar de muito menos propagandeada, dado o seu muito menor impacto político, já existe uma opção de locomoção eléctrica individual razoavelmente competitiva. Trata-se de uma opção baseada num veículo de massa e velocidade reduzidas, e portanto de limitada energia cinética, vocacionado para distâncias urbanas relativamente curtas e suficientemente pequeno para se poder parquear facilmente perto de alguma tomada de electricidade: a lambreta, ou motorizada eléctrica. Embora, de energia verdadeiramente renovável, só a velha bicicleta desmotorizada...
Esta semana o Senado norte-americano desistiu da proposta da Administração Obama para criar uma multa sobre as emissões de gases de efeito de estufa e promover o uso de energias renováveis.
A nossa imprensa mal falou nisso, e quando falou foi para desvalorizar o facto dizendo que se tratou de um mero "adiamento para o Outono".
Mas, na verdade, a notícia tem um significado brutal que os nossos ecotópicos não estão interessados que se alcance: a Administração Obama não se limitou a "adiar para o Outono" a sua proposta climática: pura e simplesmente desistiu dela!
E desistiu dela por que a prioridade americana é o relançamento económico e porque nos EUA não há apoio popular para estas medidas (a propaganda "green" que impera por cá, lá tem contraditório)!
E, com isto, como notam do outro lado do Atlântico mais a Sul, "é zero a chance de um acordo internacional contra emissões no México". O que isto quer simplesmente dizer, e que é o que os nossos ecotópicos se esforçam para que não percebamos, é que as propostas europeias para Copenhaga estão mortas!
A Europa está sozinha!
Coisa que, afinal, tenho vindo a notar desde antes ainda da cimeira de Copenhaga...
Um dos evidentes sinais da falta de vontade americana para mudar radical e rapidamente o seu modo de vida é a insistência que tanto os relatórios do EPRI, como os da Academia de Ciências dos EUA, fazem quanto à necessidade de desenvolvimento das tecnologias do "carvão limpo" (captura e enterramento do CO2 emitido pelas centrais eléctricas a carvão).
Nos EUA o carvão é responsável por quase metade da electricidade produzida (mundialmente é-o por 40%, e na China é por mais de 2/3), mas as centrais eléctricas a carvão são consideradas responsáveis por 1/4 de todo o CO2 emitido pela queima de combustíveis fósseis, embora esta queima em si mesma só seja responsável por metade de toda a actividade humana geradora de Gases de Efeito de Estuda, como já tenho notado aqui e aqui.
O problema é que, como explica o referido relatório da Academia das Ciências dos EUA, o carvão americano é barato e as suas reservas dão pelo menos para mais um século! Compreende-se, por isso, as renitências americanas relativamente ao abandono do carvão e a insistência na sua manutenção, embora "limpo".
Só que há um problema grave: é que, no estado actual da tecnologia, não há nenhuma solução comprovada com viabilidade técnica, e menos ainda económica, para a "captura e enterramento do CO2" em grande escala! E, portanto, ainda que os EUA e também a China, e a Índia, vão falando no "carvão limpo" para de daqui a 10 a 20 anos, entretanto o que é certo e garantido é que vão continuar a usar o carvão sujo, e que a única forma de produção de energia que com ele pode competir é a nuclear - se conseguir demonstrar, com a nova 3ª geração das próximas centrais em construção, que mantém a competitividade económica ao mesmo tempo que garante a segurança!
Entretanto a Europa oficial, a do longínquo Governo de Bruxelas, persiste no seu devaneio de "liderança mundial" de um sonho de desindustrialização e bem estar ecológico que é, de facto, uma utopia - sobretudo quando extrapolada para a restante Humanidade que quer ascender ao bem-estar da sociedade industrial. Uma ecotopia, de facto.
O Expresso on-line deu hoje conta de um artigo de Bjorn Lomborg escrito ontem no Daily Telegraph que, por sua vez, invoca o estudo do economista Richard Tol sobre os custos e os benefícios da política climática europeia - a referência ao artigo desapareceu rapidamente do Expresso (era politicamente incorrecta) , mas quem foi ao link descobre diversos outros artigos interessantes sobre o tema, nomeadamente o próprio artigo original de Richard Tol.
O estudo em questão estima em 1.3% a fatia anual do Produto Europeu Bruto que custará a realização da Directiva europeia "20/20/20", que pretende para 2020 reduzir em 20% o consumo de energia primária europeia relativamente aos valores de 1990 (praticamente os mesmos que em 2010, graças à transferência para a Ásia de muita da actividade produtiva europeia), a emissão de gases de efeito de estufa (GEE), e atingir uma quota de 20% de energia proveniente de fontes renováveis. Este valor de 1.3%, cerca de 210 biliões de € , se não for acompanhado pelo resto do Mundo só permitirá reduzir a temperatura média do planeta em 0,05ºC, um valor tão pequeno que é inferior à própria precisão possível das estimativas da temperatura. O benefício deste resultado é também estimável economicamente, através do custo atribuído à tonelada de CO2 e que mede o custo dos prejuízos ambientais causados por esse CO2.
Para Richard Tol, que pretende neste seu artigo fazer pela primeira vez uma avaliação da relação de custo/benefício da referida política europeia, o referido ganho é estimável em 1/3 do custo necessário para o atingir se o preço da tonelada de CO2 for de 50€ (mas tem estado a 13€ e mesmo as projecções futuristas lhe atribuem geralmente o valor de apenas 20€).
Entretanto, Tol cita um estudo encomendado por Bruxelas sobre o impacto que a Directiva "20/20/20" terá na redução da riqueza dos Estados-membros da União, analisa vários outros, e conclui pelos dados do gráfico que aqui mostro: Portugal, como se pode ver, perderá entre 4.4% e 0.1% do seu rendimento, com o valor mais provável de 1.4%, mas em Espanha, o país mais prejudicado, será pior!
Conclui Bjorn Lomborg: "European leaders should not abandon their commitment to taking action on climate change. But instead of wasting hundreds of billions of Euros on a pointless emissions policy, they should be investing in research and development of green energy alternatives. The reason it costs so much to reduce carbon emissions is that the green alternatives aren’t close to being ready to replace oil and other fossil fuels.”
Há perto de 3 meses comentei aqui o facto de a EDP ter feito a maior encomenda da História de aerogeradores, cerca de 2100 MW deles por cerca de 2,1 mil milhões de euros, à... Vestas dinamarquesa, e não ao cluster "nacional" da ENERCON de Viana do Castelo.
Hoje, o Público, pelo teclado da jornalista Lurdes Ferreira, vem dar conta que essa operação terá zangado imenso o Primeiro-Ministro de Portugal, que terá mesmo ralhado ao CEO da EDP, e o jornal adianta-se depois em divagações sobre porque terá a EDP feito aquela opção.
Entre essas divagações, o jornal aponta, como razões possíveis da opção da EDP:
- O preço. De facto a EDP conseguiu um desconto de quantidade que lhe conseguiu um preço de cerca de apenas 85% do preço corrente das turbinas. A Vestas, que é de longe o maior fabricante europeu de aerogeradores, só com esta encomenda viu a cotação das suas acções subir 11%!...
- A incapacidade de resposta da ENERCON "nacional". Isto mesmo foi explicado a este blog por um funcionário do referido cluster, que clarificou que o mesmo está dimensionado para fabricar apenas cerca de 200 aerogeradores por ano, o que corresponde às encomendas para o mercado nacional da ENERCON dos anos de 2010, 2011 e 2012. Obviamente! Pois se este "cluster" foi apenas uma pequena e tardia contrapartida pela entrega preferencial do mercado nacional de energia eólica aos alemães, como notei aqui...
- "Dificuldades da ENERCON em garantir entregas nos EUA". Como eu já narrara aqui há um ano, e voltei a falar disso depois, a ENERCON tem um litígio de patentes com os EUA em virtude do que foi proibida de exportar para lá até precisamente 2010! Por causa disso fui vilipendiado pelo dirigente da ENERCON e pela jornalista Lurdes Ferreira, mas factos são factos! Toda a gente pode consultar aqui a decisão judicial americana.
- Inadequação do tipo de turbinas fabricadas em Viana do Castelo à encomenda da EDP. As turbinas de Viana do Castelo são de 2 a 2,3 MW, e a EDP procuraria turbinas de 3 MW...
Ora esta última razão é a que melhor ilustra o logro em que o lobby eólico, que entregou o mercado português de turbinas eólicas ao estrangeiro assim liquidando a possibilidade de Portugal alguma vez poder vir a desenvolver e testar tecnologia própria nesses equipamentos, nos tenta fazer cair com a história das fábricas de Viana do Castelo. É que as turbinas que lá se fabricam já estão obsoletas!
De facto, e como já notara aqui, sendo a longevidade média das turbinas eólicas de apenas 15 anos, a sua tecnologia nunca chega a amadurecer porque antes disso surge uma nova geração, mais evoluída, que torna a anterior obsoleta. E, presentemente, o estado da arte são as gigantescas turbinas de 3 MW, e até já as há de 6 MW, e já não as de 2 MW que se fabricam em Viana do Castelo!
E por tudo isto, é com pena que vejo a vida ir confirmando o que escrevi há um ano; que "não se vislumbram razões para acreditar que estas fábricas sobrevivam ao esgotamento do mercado nacional das eólicas. Não têm condições de sobrevivência".
Entretanto, a EDP empenhou o país em mais 2 mil milhões de € devidos ao estrangeiro, para um investimento financeiro no estrangeiro com turbinas estrangeiras. E é assim que Portugal é o líder das energias renováveis!...
Recentemente, quando confrontado com o facto do período de vigência de 15 anos da tarifa priveligiada dos produtores eólicos em Portugal praticamente coincidir com o tempo de vida das suas turbinas, que seria em média de 20 anos, o Eng.º Carlos Pimenta indignou-se e contou umas das suas habituais histórias de vida, dizendo que havia visto as primeiras turbinas montadas em Portugal em 1988 ainda a funcionar e que o tempo de vida real das eólicas andava pelos 40 anos, como nas centrais tradicionais.
Ora 20 anos é o tempo de vida anunciado pelos próprios construtores, e como que a propósito recebi há pouco umas fotos que andam a circular na net e que certamente são de origem reaccionária, como poderão verificar.
Entretanto e por curiosidade resolvi fazer uma pesquisa sobre os dados de fiabilidade que já haverá sobre as eólicas em exploração por esse mundo fora, embora seja sabido que muitos dos proprietários dos parques escondem essa informação. E encontrei informação séria e de qualidade, por exemplo aqui e aqui.
Ora esta última referência, uma tese de mestrado sueca (a Suécia tem feito extensos estudos de fiabilidade dos parques eólicos) resume a realidade de forma simples: as turbinas são projectadas, de facto, para durarem 20 anos; mas o que a experiência de exploração mostra é que cada nova geração de turbinas sofre de problemas de concepção que lhes reduzem a vida média útil a menos de 20 anos mas que quando ficam resolvidos, com a experiência, aparece entretanto a geração seguinte, mais moderna mas com novos problemas!...
Na Dinamarca, por exemplo, a experiência mostra que o tempo de vida médio das turbinas eólicas é de 15.9 anos, o que dá razão ao argumento de que os 15 anos de vigência das nossas tarifas eólicas praticamente concincide com o seu tempo de vida, e portanto o Pimentinha lá inventou mais uma das dele... :-)
Entretanto, refazendo contas ao custo de investimento das turbinas eólicas para um tempo de vida de 16 anos em vez dos 20 que tenho considerado, verificamos que a energia eólica ainda é mais cara do que o que tenho suposto...
A há muito descredibilizada agência nacional informativa LUSA, divulgou sexta-feira que "A utilização da energia nuclear dividiu esta sexta-feira os especialistas ouvidos pelo líder social-democrata Pedro Passos Coelho".
E, como que a confirmar a LUSA, à saída dessa reunião de esclarecimento, o Eng.º Carlos Pimenta terá afirmado aos jornalistas que "o nuclear não cabe em Portugal".
Ora se há coisa que nessa reunião nem sequer foi aflorada, foi o nuclear!
Mais perto da verdade mas em sentido contrário ao da LUSA, o Expresso anunciou a reunião de trabalho como visando discutir as "energias renováveis", e o Eng.º Moreira da Silva, o jovem vice-Presidente do PSD actualmente com o pelouro dessas questões naquele Partido, explicou quais as preocupações que realmente haviam motivado a reunião: a inovação, a regulação, a concorrência, a política de inovação e a fiscalidade.
O Público desta vez também foi exacto, na informação que deu - a jornalista Lurdes Ferreira deve ter ido de férias... :-) - e noticiou que Moreira da Silva considera a aposta na eficiência energética a melhor estratégia nacional, para já.
Na verdade, verificou-se um embate da batalha política pela estratégia energética nacional que opõe os ecotópicos e os seus lobbies de sustento aos portugueses honrados (reutilizando uma velha etiqueta que em tempos usavam os oposicionistas).
Todos concordam com a necessidade de reduzir a dependência do petróleo e as emissões de CO2. Nisso, há um consenso que abarca toda a gente no país.
Onde se situa a divisão é entre os que defendem a consideração de todas as opções tecnológicas (full portfolio) de modo a minimizar o custo das soluções para o povo e a Humanidade, e os que são movidos por preconceitos ideológicos fundamentalistas, só aceitam certas energias renováveis (limited portfolio) e não lhes interessam nem os custos, nem a verdade, nem as pessoas reais.
Nos EUA, onde o debate e a independência de opinião são muito mais ricos que na Europa, esta divisão foi detectada há muito, razão do estudo que o EPRI, a super-estrutura de I&D energética americana, fez em 2007 e actualizou em 2009, pondo em confronto as consequências económicas dessas duas vias e que eu já invoquei aqui e aqui.
Muito recentemente foi publicado um outro estudo, nos finais de 2009, por uma instituição com ainda mais gabarito que o EPRI, a Academia Nacional de Ciências dos EUA, e que aponta para as mesmas conclusões! Pode ser lido gratuitamente on-line aqui, e o seu sumário pode ser descarregado aqui.
O estudo da Academia das Ciências dos EUA (NSA) considera a melhoria da eficiência energética a aposta com resultados mais rápidos e garantidos nos EUA, nos transportes, indústria e sobretudo nos edifícios. Mas, a um horizonte de 10-25 anos, recomenda as apostas nas energias renováveis, no carvão limpo (captura e sequestro do CO2), na energia nuclear e em combustíveis alternativos para os transportes.
Em futuros posts hei-de discutir convosco detalhes do extenso relatório da NSA, mas hoje queria só dizer-vos que esta oposição de ideias em Portugal não parece ser conciliável, dado o fundamentalismo sectário e arrogante dos ecotópicos. Uma conversa que tive com um colega da FEUP num intervalo da referida reunião com Passos Coelho esclarece tudo.
Esse colega abordou-me, comiserado com o que ele e o seu grupo julgam ser o meu reaccionarismo e falta de visão de futuro, e disse-me: "imagina que há 20 anos também tinhas dito a alguém que as protecções digitais não teriam futuro; já viste o erro que terias cometido? Agora estás a fazer o mesmo!".
Acontece que esta história aconteceu realmente, mas ao contrário! Há 20 anos, precisamente, a antecessora da REN encomendou-me um estudo sobre "o estado da arte das tecnologias numéricas em Subestações", como apoio a um projecto que então iniciavam com a indústria nacional, indicando-me pretenderem que eu elucidasse o papel que a Inteligência Artificial iria ter na automatização de Subestações. Pois o resumo do meu estudo foi que a Inteligência Artificial não iria ter papel nenhum, mas que as protecções digitais é que sim! A antecessora da REN não gostou das minhas conclusões, mas foi isso mesmo que aconteceu e o projecto deles com a indústria nacional ficou em águas de bacalhau. Foi essa indústria que depois me envolveu no desenvolvimento das protecções digitais nacionais, projecto que lá realizei na década seguinte.
No caso das "micro-redes" e do fundamentalismo eólico-solar a minha recusa não é tecnológica, mas política, pelas razões que este blog tem vindo a testemunhar!
Tentando contemporizar, disse ao meu colega da FEUP que, embora não acreditasse no futuro das "micro-redes" e "smart grids" associadas em que ele anda envolvido, do ponto de vista de I&D considerava que havia no assunto tecnologias interessantes e que concordava em que se investisse no seu conhecimento, acautelando o futuro. Mas que, pelas mesmas razões de cautela com o futuro, achava que se devia investir também no conhecimento das tecnologias da energia nuclear...
Ora quando falei na energia nuclear o semblante do meu interlocutor crispou-se numa recusa completa. E notem, eu estava só a falar em investir em conhecimento!!!...
Penso que isto resume a natureza deste confronto.
A Scientific American on-line nota num artigo recente que o primeiro automóvel eléctrico que estará disponível no mercado, em 2011, na verdade disponível em apenas 4 países-cobaias (Japão, EUA, Holanda e Portugal), vai colocar problemas novos aos seus utilizadores.
Como já referi aqui, esse automóvel, o Nissan Leaf, anuncia uma autonomia de 165 km em condições ideais, 140 km em condições reais, que se vai reduzindo anualmente em pelo menos 20%.
Nestas condições, não é improvável que de vez em quando os seus proprietários se vejam confrontados com uma situação que já aconteceu a toda a gente com os autmóveis actuais: ficar parado na estrada sem combustível...
O problema é que, com o automóvel eléctrico, não se poderá recorrer à tradicional solução de apanhar uma boleia até à estação de serviço mais próxima e vir de lá com uma lata de gasolina...
Algumas décadas atrás, nos anos 80, quando estava em curso o Projecto Minerva para a introdução de ferramentas informáticas nos ensinos básico e secundário e as miragens então prometidas pela Inteligência Artificial animaram o grande projecto japonês da 3ª geração de computadores, foi desenvolvida uma linguagem de programação para ensinar o raciocínio lógico a crianças de 8 anos: o LOGOS.
Eu próprio me entusiasmei na altura com a ideia (além de ser grande entusiasta então - e ainda sou, confesso - da Inteligência Artificial), até que li na Spectrum, a revista generalista do IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers), um primeiro estudo de avaliação do impacto dos computadores na performance educativa das crianças. E o que esse estudo revelava era que os que já eram bons alunos aproveitavam, de facto, estas ferramentas para melhorarem os seus conhecimentos, mas aos outros a informática nada adiantava. O próprio esforço mental que essas ferramentas exigiam os levava a não quererem sequer tirar partido delas!
Claro que viria a procurar instruir os meus filhos tão cedo quanto possível nestas tecnologias do mundo em que iriam viver, mas já na altura sabendo que elas não iriam mudar nada daquilo que realmente separa os instruídos dos que o não são. Não iriam nunca anular, nem sequer reduzir, bem pelo contrário, as diferenças da natureza humana.
É por isso que nunca acreditei nesta ideia bem intencionada de Guterres de que investindo em infra-estruturas de acesso rápido à Internet e em computadores para toda a gente se combateria o analfabetismo funcional dos portugueses. E, claro, nunca acreditei que o Magalhães pudesse ter qualquer outro efeito que o de reforçar a aversão ao trabalho em que a nossa política educativa cultiva os nossos miúdos e o de reforçar a ideia de que para ter coisas é do Estado que as devemos esperar, e não do nosso próprio esforço!
Mais: considero tão absurda a esperança de que dando computadores e Internet a todos os jovens há-de daí resultar uma geração proficiente na economia do conhecimento, como seria a ideia de que distribuindo automóveis a toda a gente daí resultaria uma grande indústria metalo-mecânica nacional!
Já há tempos comentei aqui um estudo americano recente que mostra de novo que o acesso precoce aos computadores pelos jovens não só não os enriquece em nada culturalmente, como os desvia do trabalho e do esforço escolares que são a única verdadeira base de qualquer aprendizagem. E hoje, ao ler o New York Times, encontro mais um estudo rigoroso feito pela Universidade de Chicago sobre os resultados de algo similar ao Magalhães feito na Roménia (com a diferença que lá não houve favores a uma empresa particular, aliás com sérios problemas fiscais): negativo! Os resultados revelam-se negativos, tal como os que haviam sido publicitados recentemente para os próprios EUA: "few children whose families obtained computers said they used the machines for homework. What they were used for — daily — was playing games." Isto é sobretudo verdade para as crianças dos meios mais desfavorecidos, aquelas que o eduquês diz querer promover.
O artigo do NYT para que "linkei" tem ligações para os outros estudos, pelo que deixo ao leitor interessado a respectiva pesquisa, se quiser.
O que mais me espanta é que tudo isto já se sabia há 25 anos, quando os PC ainda estavam nos primórdios! Porque foi tudo esquecido?
E, por falar em experiências antigas, que resultados, que avaliação teve o projecto Minerva?
Há gente que, como se vê, não aprende nada.
E não aprende nada porque o que os move é uma fé de que se há-de encontrar algum milagre, antigamente uma revolução cultural de guardas vermelhos, hoje uma tecnologia, quiçá uma revolução tecnológica, que traga consigo a Grande Igualdade. Fé essa que é imune aos factos.
E para terminar, não cedo à tentação de vos recomendar um excelente texto de Guilherme Valente, o criador da GRADIVA e cavaleiro de uma Távola a que também pertencem Nuno Crato, Paulo Guinot, Maria do Carmo, o blog Rerum Natura e alguns poucos outros, Távola que jurou por missão a luta contra o mal do eduquês: aqui.
Uma das histórias mais patéticas sobre devaneios tecnológicos é a do projecto Huemul argentino e da sua alegada descoberta de como controlar a fusão nuclear a frio.
Por alturas da II Guerra Mundial a Argentina era governada por um regime militar populista liderado pelo general Péron (cuja primeira mulher, a lendária Eva Péron, deu azo a uma conhecida ópera-rock protagonizada por Madonna). A Argentina, aliás como Portugal com as conservas, acumulara muito dinheiro com a sua neutralidade na guerra e as exportações de carne, e Péron tinha sonhos de vir a liderar uma grande potência, a "Nova Argentina".
Por outro lado, embora neutral durante a guerra, as simpatias do regime peronista iam assumidamente para a Alemanha, razão pela qual veio a acolher grande número de responsáveis nazis que conseguiram fugir depois da derrota e ocupação militar do seu país.
Um desses refugiados nazis foi o germânico Ronald Ritcher, que pretendia ser capaz de produzir a fusão nuclear de átomos de deutério com ondas de choque de relativa pequena potência - para quem não saiba, o (ainda) sonho do controlo da fusão nuclear é o motivo do gigantesco projecto internacional ITER, a tentar-se lá para 2020, se tudo correr bem - mas a quente!...
Á época em que Ritcher abordou Péron, 1948, a Humanidade trabalhava no controlo da cisão nuclear, que em breve (anos 50) viria a produzir reactores para a produção de energia eléctrica e para a locomoção de submarinos. Mas a fusão nuclear estava fora de hipótese para toda a gente!
Porém, Ritcher conseguiu convencer Péron a financiar uma megalómana instalação secreta numa ilha, prometendo que iria produzir fantásticas quantidades de energia obtidas por fusão nuclear a frio, empacotadas em dois tipos de recipientes, de meio litro e de um litro, até que um dia lhe anunciou ter conseguido os resultados pretendidos, e o Governo argentino anunciou solenemente ao Mundo que "on February 16, 1951, in the... Isla Huemul... thermonuclear reactions under controlled conditions were performed on a technical scale"!
Evidentemente, era uma burla, e o saldo do "projecto Huemul" foi, além de uma vergonha para a Argentina e de um enorme desperdício de meios, um agravamento do atraso científico do país, por todos os recursos terem sido desviados para aquele projecto.
Porque foi possível um mitómano como Ritcher ter convencido Péron a embarcar em tal aldrabice? Primeiro, porque Péron admirava profundamente a competência alemã e acreditava que qualquer coisa que um cientista alemão se propuzesse realizar teria sucesso, e segundo porque se recusou a ouvir os cientistas argentinos que o avisaram da inviabilidade do projecto por causa das divergências políticas que tinha com eles.
Vem esta história sobre a fusão nuclear fria argentina a propósito do vaticínio que o Primeiro-Ministro de Portugal fez recentemente sobre o papel do carro eléctrico na "estratégia europeia contra as alterações climáticas", e que Portugal lidera ao ter a rede mais "inteligente" e "integrada" de abastecimento de veículos eléctricos. E que esta ideia de grandeza até convence muita gente foi patente ontem no programa "Quadratura do Círculo", com o sensato António Costa a invocar esse projecto, feito por "empresas privadas", como exemplo das coisas positivas que estão a acontecer no país.
Ora porque é que é Portugal quem tem a rede de abastecimento de automóveis eléctricos mais "inteligente" e "integrada"? Porque os automóveis eléctricos... não existem!
Como a fusão nuclear fria, que também não existe.
O Primeiro-Ministro português acredita que os automóveis eléctricos vão existir muito em breve, dando então uso à tal rede de abastecimento, mas receio que a sua fé seja semelhante à de Péron.
O primeiro automóvel eléctrico em comercialização deverá estar no mercado lá para o fim do ano, o Nissan Leaf de que já aqui falei. Mas é muito duvidoso que se lhe siga uma inundação de automóveis eléctricos nas estradas portuguesas; não existem ainda baterias capazes de viabilizar automóveis eléctricos, nem é previsível que venham a existir nos próximos 10 anos, como tenho repetidamente chamado a atenção aqui e aqui.
Claro que se podem fabricar automóveis eléctricos, protótipos, pré-séries, e até tentativas experimentais de comercialização; ao que me refiro, quando digo que o automóvel eléctrico não existe, é a um automóvel eléctrico que seja viável em economia e sobretudo autonomia, a ponto de poder constituir uma opção de uso social corrente.
Mas, tal como Péron, em matéria de Ciência e de Tecnologia o nosso Primeiro-Ministro parece só ouvir quem concorda com ele...